sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ter ou pertencer...



“Não importa o que temos, o importante é quem temos. Tu não tens ninguém.”
                                                Agualusa, José Eduardo in Barroco Tropical


Não somos propriedade de ninguém. Não somos proprietários de quem quer que seja. Mas há presenças que nos completam e completamos. Começamos por ser filhos e pertencemos aos nossos pais. Mais tarde seremos pais e pertencem-nos os nossos filhos. São heranças de sangue que os maiores temporais não poderão desfazer. Os primeiros deram-nos a vida, aos segundos somos nós a dá-la. Só que no percurso de cada vida, há uma implacabilidade intransponível: os nossos pais, um dia, despedem-se da vida, enquanto os nossos filhos, um dia também, criarão a sua própria. A cada um de nós resta-nos ficar só. Ligados a estes laços, mas sós. Sem pertencermos a alguém. Sem que alguém nos pertença. Livres para poder migrar entre areais longínquos onde não pousamos, nem fazemos nossos, mas cada vez mais sós. E poderemos construir um reinado. Poderemos coleccionar o que a ambição material e consumista almejar. Mas estaremos sós. Ter-nos-emos a nós, argumentarão muitos… para nos sentirmos sós, responderei eu. É verdade que no leito da morte estaremos sós. Mas quanto valerá, nessa despedida derradeira, ter alguém que nos ouça dizer: ‘Amo-te! Foi bom ter alguém como tu!’?... Quanto não valerá pertencermos a um coração especial que nos pertença?...

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