sexta-feira, 29 de julho de 2011

Submersão


Sopra uma melancolia de aluvião
sobre esta ilha que sou
dum arquipélago que fomos,
nas vossas passagens
aves migratórias
semeiam a efemeridade da primavera,
mas permaneço desalento
na vibração do último som
bemol
quiçá na espera dum vento
que me faça esquecer
ser o tempo esse oceano
onde a morte me alagará
no desnorte de não vos saber
ao largo…

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Ao largo... e tão perto

foto © Branka Kurz

Chegas
em ondas de rebentação,
com afagos,
afogas-me,
no mastro erguido
iças-te
desnudando caminhos
por onde as mãos
desfazem nós
de cabos
que outras marés
não dobraram
e sem palavras
abeiras-te da boca…

fundeio,
afundo-me,
ancorado em ti.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Envelhecer *


Envelheci,

na espera
de que se abrisse…

o tempo a romper por mim
esse abraço,
desenferrujando guarnições,
enfrentando a luz,
desguarnecendo a dúvida…
diante de mim o espaço,
largo de futuro,
chamando-me,
esperando-me,
desesperando…
que o futuro também se esgota
e o passado torna-se uma espera

por onde passei

a envelhecer.


* a partir da imagem espera(r), de sonja valentina

terça-feira, 5 de julho de 2011

5 de Julho [2005 - 2011]




A memória fragmenta-se na distância que o tempo traça. Como pedaços de pele que se soltam à procura de nova carne que reerga a verticalidade.

Mas o que fomos, somos e seremos, enquanto seguramos os trechos de nós que nos construíram e em que nos moldámos, revelar-se-á mais importante do que o instante em que nos decidem esquecer.

Cabe-n
os a responsabilidade de não esquecermos o que fomos, pois no fundo somos e seremos eternamente parte da dança que se fez/faz neste País. Deveremos transportar o orgulho de termos colaborado em muito do que se fez memorável nesta arte, em Portugal.

Enquanto nos soubermos manter vivos, perdurará a certeza que há herança do que fomos, naquilo que hoje somos, mas também naquilo que ainda será feito. Porque enquanto nos mantivermos vivos, a memória não se apagará. Porque não fomos!, mas somos parte do que o Ballet Gulbenkian é.

Extinguiram a oportunidade de sermos dia em conjunto, mas não extinguiram a memória do que fizemos. Estamos aqui, vivos a lembrar!

Esta é a minha singela homenagem a TODOS os que, de alguma forma, nos pertencemos.

Hoje, que passam seis anos, sobre a data em que decidiram que deixaríamos de ser um todo. Hoje que continuamos a ser partes desse todo que não se esquece.


segunda-feira, 4 de julho de 2011

Arbítrio irreversível


véu vermelho
sangue
penetrando a terra
remexida
passos
iniciação
dança
movimento perpétuo
ritmo compassado
alucinação sem regresso
até à libertação
descoberta
celebração
de corpo
eleito…


sábado, 2 de julho de 2011

Pousio


São minhas
as palavras esquecidas
que uma onda num beijo me levou,
esconde-se a felicidade
desse vento em que por mim passaste,
soçobro nas linhas da carta que não escrevo,
o poema deixou de ser leito para meu sentir
e já não semeio tempo
pois teu olhar entrou em pousio.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Sonhar


A ousadia de sonhar faz-nos crer na pertinência do amanhã!