domingo, 20 de novembro de 2011

Pedra_das... II

Aprender a ler no observar. Depois sonhar. Descer os patamares do ambicionado.
E, sem frustração por nem tudo alcançar, voltar a sonhar, na leitura do observado.

sábado, 19 de novembro de 2011

In_Quietos Caminhares



Lavras com lágrimas o poema
inacabável na canção que calas;
sobejam murmúrios de sal,
deixados pelo mar navegado
até chegares à ilha sem alma
onde ergues trincheiras no peito.

Disparam, as aves, notas inaudíveis
sobre a voz obstinada do teu coração,
no teu rosto debuxa-se a noite
em que os corpos repeliram o céu,
atraídos pelo vento de extinção
no abrigo retardatário da alma.

Acordo no rumorejar remoto do rio
que me adormecera no frio d’ausência,
a claridade rasga um bando de nuvens
desnudando o cio arrebatado às ninfas,
na palma das mãos jorra-me em vulcão
a indecisão da sede inscrita no olhar.

Nos teus seios acosto a vontade
há dias abarcada no cais da espera,
a alucinação sulca humidade na estrofe
porquanto a luz se te boleia nos lábios,
gritam Verão os versos que te ofereço
alagando a pele em que me faço semente.

Pedra_das... I

Alimentar a alma com a capacidade de ler o que não está escrito, mas se adivinha.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Poesia Perdida

© Louis de Funeste

Ouve o silêncio que me irrompe dos olhos
quando as palavras se afogam no vazio
e o tempo esgota-se sem recomeço,
no futuro das marés esquecidas pelo luar.

Guardo na mão a memória duma ceifeira,
que cedendo ao cansaço do dia,
perdeu o corpo na sombra dum poema
ceifado pelas cores do silêncio por olhar.

Por entre os dedos vaza-se a origem
dum cântico a entoar…

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Teu

© ilConte

Atravessei a penumbra do olhar
e entrei naquele destino teu,
quis adivinhar-me lá,
razão do teu apego
em espera não titulada,
calada
num sonho não embarcado…
por trás
a rebelião da maré
ecoava a corrente da dúvida
e a minha ansiedade
de me saber
teu horizonte. 
teu...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Dizeres


Na comoção da palavra
a emoção dum corpo,
rasgo oblíquo da ausência
consumado em dança silábica,
nostálgico mistério ardente
no saber de verbos magoados,
espaço sufocado pela boca
que não diz… apenas beija!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Flor

imagem recolhida aqui


não desiste meu tronco
de habitar nu
___________ 
veludo delongado
do fogo que ardes
para além das sílabas
presas nos braços
cingindo em pétalas
o pistilo em que te geras…

domingo, 13 de novembro de 2011

Extinção


Faltam-me as palavras
para vos levar em sentir,
ficam-me vazias as mãos
que vos estendo para ler
e desprovidos
regressarão vossos olhares
por esta vontade deserta
que me desfolhou os ramos
num outono
convertido em escrita…

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Transparência


Transparece-lhe o corpo
na alvorada do olhar,
descobrem-se formas
no crepúsculo das mãos,
atravesso uma estrada
de distância por conquistar,
profano enigmas de silêncio
das marés folheadas nas bocas
e flutuam palavras náufragas
na raiz do poema.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Confissão de um Crime


© Pavla Hajek

Confesso ser homicídio do vazio, violentado com palavras,
confesso ser sequestro da inquietude que emudece a angústia dos peitos,
confesso ser violação do sigilo de corações,
confesso ser receptação de sentires que a alma roubara à paixão,
confesso ser ameaça permanente à serenidade dum olhar carente,
confesso ser furto de inspiração a palavras terceiras,
confesso ser difamação da verdade, chamando-lhe sonho,
confesso ser injúria das teorias cartesianas
e mau trato da prosa realista... 

Confesso que não sou criminoso, mas crime!
Confesso que sou poema!!!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Nada


num sorriso
da manhã
a asa
de onda
à procura de maré
que atravesse
o oceano do tempo,
poiso
em areal
margem de dia
d’outro
que não este
onde me perco,
mas pertence-me
e prende
à imensidão
do nada…

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Fulgor de Inverno



Combina cores
como palavras que não tem...
[fulgor de inverno
colorido por sol que não aquece]
arruma-as,
sílaba por sílaba,
misturando-lhe tonalidades,
já não sabe
se pinta,
se escreve,
se compõe,
gelam as mãos,
num teclado,
ora paleta,
ora folha,
caída,
esquecida no chão,
memória de outono distante
enquanto os lábios se gretam,
soletra sons,
colora palavras,
escreve cores
e sorri
submerso na melodia
escrita pelo sol
no azul pintando de céu
o fulgor do inverno.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Antes que os lábios se toquem


Antes que os lábios se toquem
escrevo uma maré de linhas
e nas margens do teu olhar
voa um bando de palavras
que nem tu sabes escrever, nem eu ler…
antes que os lábios se toquem
as línguas perdem vocabulário
por se saber ser único
em dialecto celebrado nessa gruta
onde as bocas se calam
depois que os lábios se tocam.