quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Oculto



descobrir o que se oculta
num céu encoberto,
é a tentação da imaginação
ao voar incendiada
para além do que é possível
ao olhar.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Espuma de palavras


penduraste as palavras oferecidas
e deixaste escorrer,
pelas paredes humedecidas de tempo,
a espuma de quem,
com elas,
te quis chamar.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Deixa que hoje me deite...


deixa que hoje me deite
não no lugar que vês,
mas naquele com que sonhas.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Vida e pétalas


na metamorfose das pétalas 
há um tempo de futuro 
mais longo e moroso 
do que a água fresca
que se esvaía na sede
retemperando as cores.

... abranda-se-lhes a vida.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Formas




no meu corpo,
tua mão escreve a procura do epílogo
onde tudo começa,
decoras cada forma
para que no conjugar das peles
nenhum erro
te interrompa a ladainha do prazer.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Desflorar


esconde-me incauta na pena das asas
na dilação para o voo sob tua anágua,
é em surpresa que o vento sopra brasas
e me deixa ditoso cativo de tua frágua.
antes ser restolho do que promessa,
cântico velhão que insistes aprender,
oculto-me na sílaba que te atravessa
e te fecunda em gemido de prazer.
sê salvádega de meu naufrágio em ti,
acoita-me no dulcificar que se ordena
quando tua volúpia lodosa em mim sorri.
prende-me casto, nessas asas. sem pena!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Incendiado

© JCGrant

sê vela
e veia!
incendeia-me
sangue
dentro de ti!


quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Rogo


que as palavras se recolham na gruta onde os sentimentos nascem
e dela apenas saiam as inadiáveis e transparentes.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O Poema


depurado,
o poema fecha-se na boca
até que um beijo o abra.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Violeta

© Jason P

tinha um vestido violeta
cobrindo-lhe toda a nudez
e o sangue só me perguntava
qual o segredo da sua tez.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Circular


antes que o sangue seja estátua, incendiaremos a confissão das noites e a febre descerá sobre a intranquilidade das pálpebras. a inconsciência esgotar-se-á no perdão rebuscado, pintado de vontade, pretensão de ser escora. façamo-nos língua, pois só no verbo a exuberância do infinito não coagulará.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Palavras em Outono

© auster

caídas, as palavras cobrem em manto o território dos passos. significados vazados pela indiferença de rumos em rotina. esbatidas pelo alhear dos olhares, as cores anunciam ter o outono descido sobre a inspiração. secam vocábulos por endossar, no rumorejar de sílabas esmagadas sem vindima.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Uma manhã...


incapaz de subir acima do horizonte, um sol débil de dezembro beijava-lhe o rosto. disfarçava num olhar distante, a atenção descida sobre si. comprimia-se para segurar as águas que o olhar dele lhe despertavam, ao pretender tocar o invisível.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Voando


sobre a sombra,
voa em silhueta,
talvez em busca de pouso,
quiçá de rota...
segura
que nem só de sol
se tecem os endereços cálidos.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Pintar.te


eram frutadas
as manhãs em que o meu corpo
chegava com o sabor da tua vontade
e a primavera se desdobrava
nas cores de um quadro,
no qual
deitada te aprestavas
para o silêncio do meu abeirar-te,
antes dos nossos olhos se fecharem,
na noite
e em relâmpagos acendermos
a rendição embriagada.



© palavras minhas para uma pintura de Eduardo Afonso Viana [1881-1967]