quinta-feira, 25 de abril de 2013

Pares



gosto de provar-te a pele


lavada no viço da minha

lavada no viço da minha
tua boca alvoroça o fogo

tua boca alvoroça o fogo
aceso em noites de sede

aceso em noites de sede
transpiro a míngua do corpo

transpiro a míngua do corpo
vestido com arrepios ardentes

vestido com arrepios ardentes
de saliva debutante tecido.
  

domingo, 21 de abril de 2013

Renascer



a primavera
ainda não aprendeu a ludibriar a tristeza,
mas os pássaros já regressam,
tudo cresce;
há uma nova melodia
nos aromas por redescobrir,
e, nas bocas, ribeiros por inventar

de beijos por repetir;
já não preciso dos livros,
as palavras desfiam retratos
de momentos por emoldurar,
memorizo a receita para as noites deitadas no linho
e espero-te com um cálice de verão
por provar.


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Regaço de palavras



nos silêncios sepulcrais,
pousava palavras no regaço.
mas não as lia!

antes esperava que elas lhe tomassem o pulso
e lhe lessem a orfandade que alaga o futuro
a quem castraram o sorrir.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Desnudar o segredo


desnudar-se-á o segredo
quando me despir em palavras
e for meu o teu olhar,
segurar-me-ás cada sílaba 
como quem agarra a carne nua
com as unhas que deseja tatuar.

desnudar-se-á o segredo
quando me provares as palavras
e for meu o teu hálito,
saborearás cada significado
como quem se entrega à pele nua
no instante inadiável.

desnudar-se-á o segredo
quando sem palavras, revelares
ser eu
o teu segredo
nu.


segunda-feira, 15 de abril de 2013

Lentidão veloz


é lento,
não sei se o tempo,
se o passo
a que os versos se desmoronam
num querer penitente
por não alcançarem
o consentimento do destino
para serem livres
na velocidade obscena
com que o desejo
quebra o sossego.

sábado, 13 de abril de 2013

Caminhos


deixei as mãos caírem 
no caminho dos passos,
talvez em busca do tacto,
porventura de um rumo...
porque os pés não agarram 
e só as mãos
poderão encher-se do vazio
que a tua veste já não cobre,
pois que dos passos
remanesce o caminho
por onde o vento se arrasta
numa rota de pegadas
...
apagadas!


quinta-feira, 11 de abril de 2013

Crepitante


há um corpo que não dorme
porque a lareira crepita
e chamas
com essa voz que não ouço,
nessa vez em que não chegas,
as horas tecem um labirinto
e o fogo fraqueja,
num voo frágil de cansaço
porque há um corpo que não dorme
e é o meu,
porque o teu não chega,
nem ouves o tremor
em que me estendo,
enquanto o desejo adormece.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Depressa



enquanto se faz tarde
risco teu nome
numa ardósia de horas
frias e esquecidas
do silêncio
quando o vento declamava,
no teu decote,
os segredos roubados
às horas em que sem voz
te chamava
nas tardes que nasciam cedo.