quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Falésia


Passeio pela música como poderia ser no topo de uma arriba. Num contínuo agudo, melódico e encantatório, ouço as fragas que te chamaram. Tocas no mar. E os dedos salgam as teclas. O vento rasga a paisagem e um insinuador tango arrebata os sentidos. Quem lhe consegue resistir? Quem não se deixa tentar por esse afoguear dos corpos? Ouço-te. Sorris. Ris como quem se vangloria da vitória por ter antecipado a partida. As tuas mãos também riam, antes de partires. Seduziam a vida como só os génios conseguem. Deixam-nos partidos, músicas inteiras, tocadas antes da tua partida. Restam-nos tempos interrompidos, preenchidos com expectativas de excertos que se completem. Antes de partirmos.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Dias Especiais




era uma vez um tempo em que os dias especiais tinham data.

mas o rio da vida foi afundando esse sabor particular às datas que se distinguiam das demais.

hoje, os dias especiais não passam de casas meio vazias, por vezes habitadas pela surpresa de instantes dispersos que emudece as expectativas.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

Por vezes...


trazes o cheiro a terra molhada
e versos, que não sabes,
escrevem-te desejos moldados ao corpo.
amanheces cores de madrugada
e eu lavo, em ti, meu olhar.
voa-te dos dedos a intransigência dos gestos,
mil vezes ensaiados em lençóis de linho vazio.
pouso a vida num teorema adiado
e desfaço em sementes o manto de solidão
... enquanto dizes bom dia
e me fazes caminho.