segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Romance de um dia de estrada


chegou-lhe na maresia das horas.
esquecido pelo tempo,
fora um caminheiro sem bússola.
no alpendre da desesperança
sentou-se num banco exausto pela espera.
soltou uma página do manancial que lhe é sangue
e ela, enfeitiçada pelo que ouvira,
arrendou-lhe a assoalhada que mantinha vazia:
o seu peito;
que ele pagaria com versos
roubados à brisa dos dias.
e assim preencheram as horas
que de tão cheias
lhes secaram as bocas,
que de tão impacientes
ensandeceram as peles,
que de tão abrasadas
despiram o alqueive legado pelo rigor do inverno
e, em marés cheias, vestiram-se mutuamente
esquecendo o tempo que resta
para o ponto cardeal
onde a vida termina.

1 comentário:

Sopro Vida Sem Margens disse...

Horas decisivas em cada ocasião que de tão sentidas se tornaram enormes entre os diversos versos, misturada-mente nas bocas tão cheias e bilradas de espuma...