© CNB, Rodrigo de Souza [intérpretes: Filipa de Castro e Carlos Pinillos]
como um vento,
um rodopio de pensamentos
seduz-me e verga-me.
na crucificação da atracção
o grito toma corpo
numa dialéctica de lamentos.
há uma prece
e uma súplica de sangue
e um nome feito voz
em mortalhas de memória
por despir,
ecos do meu querer
feito pranto.
elevam-se voos de feminilidade,
bordados em mel
e na amplidão de asas.
sobre o frenesim de violinos,
sussurros espalham-se pelo chão
em pulsar universal.
desenha-se um círculo de âmbar,
sinto o intangível,
na ausência de ti
construo-te presença
em que só a pele te sabe
aroma recuperado,
abraço impraticável.
no reino de Hades
há jogos de invisibilidade
e cantam os anjos
serpenteando ,
por entre o vibrato das cordas,
a permissão de felicidade.
carregar-te-ei
rumo à vida.
segue-me! segue-me!
segue-me até que a tentação nos condene
e a multidão,
elegendo-se juiz,
nos separar territórios.
dançaremos!
encandeados pela luminosidade
que nos é visão
e cegueira.
depois…
depois, num labirinto de espelhos
a demanda de um rosto
que personifique a memoração
e justifique o crer.
depois…
depois fugirei,
tanto quanto possa
até ao lugar da morte
e aí me finarei
iluminado pela lua,
a única que ousa
roubar-nos em luz,
o sol.
2 comentários:
Um poema que mostra bem como um bailado pode transfigurar as palavras. Muito belo o poema. Muito belo o bailado que também vi...
Beijo.
Vi este bailado e dou os parabéns pelo poema, que lhe faz jus!
Beijos
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