“Não importa o que temos, o importante é quem temos. Tu não
tens ninguém.”
Agualusa, José Eduardo in Barroco Tropical
Não somos propriedade de ninguém. Não somos proprietários de
quem quer que seja. Mas há presenças que nos completam e completamos. Começamos
por ser filhos e pertencemos aos nossos pais. Mais tarde seremos pais e
pertencem-nos os nossos filhos. São heranças de sangue que os maiores temporais
não poderão desfazer. Os primeiros deram-nos a vida, aos segundos somos nós a
dá-la. Só que no percurso de cada vida, há uma implacabilidade intransponível:
os nossos pais, um dia, despedem-se da vida, enquanto os nossos filhos, um dia
também, criarão a sua própria. A cada um de nós resta-nos ficar só. Ligados a
estes laços, mas sós. Sem pertencermos a alguém. Sem que alguém nos pertença.
Livres para poder migrar entre areais longínquos onde não pousamos, nem fazemos
nossos, mas cada vez mais sós. E poderemos construir um reinado. Poderemos coleccionar
o que a ambição material e consumista almejar. Mas estaremos sós. Ter-nos-emos
a nós, argumentarão muitos… para nos sentirmos sós, responderei eu. É verdade
que no leito da morte estaremos sós. Mas quanto valerá, nessa despedida
derradeira, ter alguém que nos ouça dizer: ‘Amo-te! Foi bom ter alguém como tu!’?...
Quanto não valerá pertencermos a um coração especial que nos pertença?...
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