é nesse teu modo irreverente de seres oceano que encontro as
formas do teu mar, os limites da minha vontade ancorando nas margens do teu
desejo e o sal da sede demorando-se nas ondas que atormentam os corpos.
Uma calçada para subir com o fulgor da paixão e descer com a convicção de regressar. Um espelho de momentos de contemplação, em que sentado num degrau observo, ouço e sinto privilégios que me sejam concedidos. Um lugar de recato onde semear divagações será a forma de descobrir novos caminhos.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Romance de um dia de estrada
chegou-lhe na maresia das horas.
esquecido pelo tempo,
fora um caminheiro sem bússola.
no alpendre da desesperança
sentou-se num banco exausto pela espera.
soltou uma página do manancial que lhe é sangue
e ela, enfeitiçada pelo que ouvira,
arrendou-lhe a assoalhada que mantinha vazia:
o seu peito;
que ele pagaria com versos
roubados à brisa dos dias.
e assim preencheram as horas
que de tão cheias
lhes secaram as bocas,
que de tão impacientes
ensandeceram as peles,
que de tão abrasadas
despiram o alqueive legado pelo rigor do inverno
e, em marés cheias, vestiram-se mutuamente
esquecendo o tempo que resta
para o ponto cardeal
onde a vida termina.
sábado, 7 de dezembro de 2013
Adiante
fechei a noite
como quem arruma uma gaveta
a que não voltará nas próximas estações.
horas e horas por usar.
cores desbotadas
por tantos olhares sem razão.
um vazio de lugares
cheios de ausências.
e no fundo
uma folha
onde um dia
escreveras uma manhã
inundada de cidades por conquistar.
como quem arruma uma gaveta
a que não voltará nas próximas estações.
horas e horas por usar.
cores desbotadas
por tantos olhares sem razão.
um vazio de lugares
cheios de ausências.
e no fundo
uma folha
onde um dia
escreveras uma manhã
inundada de cidades por conquistar.
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
Infinitus
é nesse limite infinito de onde me chamas, que me conjugo.
imperfeito será, eternamente, o tempo onde não nos perpetuamos.
domingo, 1 de dezembro de 2013
Convite
escrevamos nomes numa rocha
a que o mar deu corpo
no resgate das ilhas.
perdamo-nos do vento da prosa,
se na poesia temos por percorrer
incomensuráveis milhas.
a que o mar deu corpo
no resgate das ilhas.
perdamo-nos do vento da prosa,
se na poesia temos por percorrer
incomensuráveis milhas.
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Retiros
o sol de agosto atravessou as mulheres até recônditas palavras guardadas pela timidez ou precaução. nas suas sombras, gotas de sangue... de vontades feridas pelo silêncio, ou talvez sinais de um parto, de um poema por acontecer.
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
Permissão
deixa-me gritar o poema, com a força do sangue e o apego das veias que o disfarçam. deixa-me sangrar o desfibrar das palavras, tocadas pelos teus dedos indiscretos, que com prudência se intrometem entre as vocações dos meus pensamentos e se calam com o olhar de quem sonha. deixa-me gritar. baixinho. como quem sussurra, ilicitamente, o que deseja ser ouvido. mas não diz...
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Paisagem Transfigurada
© Samanta
pétalas de sangue
choravam-lhe das mãos,
sobre um arco imperfeito de luz
caíam-lhe aos pés
troncos de uma floresta,
sem céu.
alvos são os lábios
de um coração
anémico de poesia
em hemorragia de tristeza.
folhas vermelhas
eram lágrimas de um solo
viúvo de sol.
fazia-se noite
nas pegadas da história.
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
domingo, 25 de agosto de 2013
Corrente
despe-me as palavras e, mais do que a pele, ver-me-ás o sangue.
despede-me das palavras quando, mais do que pele, me sentires sangue.
... a correr dentro de ti.
domingo, 18 de agosto de 2013
Voo estreitado
falaste-me
da riqueza dos humanos
e dos sonhos dos pássaros,
da irracionalidade dos instintos
e do horizonte desmesurado dos pensamentos,
e eu balancei
entre os desejos
de uns braços abertos em voo
e os de umas asas fechadas em abraço.
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Não me chames!
não me chames se não me sabes o nome!
ou se o sabes, não o conseguires demorar na tua boca!
sábado, 10 de agosto de 2013
Contar
© Longing
contei-te os minutos
e depois os passos
e as pétalas caídas dos poemas,
uns já escritos, outros por ler
e outros ainda por ser,
contei-te as tardes, as paixões e os erros
das noites por adormecer
e contei-te os corpos
e depois as febres
e ainda os fogos acesos em incontáveis esperanças por apagar.
contei-te tanto de mim
sem que entendesses
que as histórias não se contam
porque o seu infinito termina
na matemática de quem as não sente.
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
Desafio
não sei! não sei o que chamar a esta tentação de aqui vir namorar-te as palavras e depois... depois deixar pedaços de mim, na ânsia de provar teu olhar sobre estilhaços do meu sentir...
terça-feira, 6 de agosto de 2013
domingo, 4 de agosto de 2013
Início
sustenho o suspiro e digo-lhe: "ainda é cedo para o verso abandonar o poema! as barcas tardam em se despedir da noite e caírem nos braços do mar. bebe um pouco mais da melodia e esconde-te na espera que o peito se abra. devagar. como quem adormece por acreditar no despertar."
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
Olhar esquecido
esqueci-me do olhar num horizonte sem lugar. nem sei se seria horizonte... ou lugar.
era apenas um nada onde o pensamento me prendeu, na expectativa de ser futuro.
ou então… passado por recuperar.
quarta-feira, 31 de julho de 2013
... de areia
sonhei-te de areia.
não sei se para moldar-te ao sabor das minhas mãos…
se para saber-te nas minhas mãos, escorrendo grão a grão ao meu sabor…
segunda-feira, 29 de julho de 2013
Distância
lembras-te do tempo em que, sem o assumirmos, quebrávamos a distância com ventos de palavras e cobríamos tempestades com conversas de fogo disfarçado, contando os quilómetros que teimavam em separar-nos? distantes estão esses dias em que não ousámos a loucura. e assim nos furtámos a uma fatia de sanidade. separar-me-ão de ti, cada vez mais dias; mas não esta memória de que te guardo o sabor.
sábado, 27 de julho de 2013
Espera
contava grãos para esquecer as horas,
mas percebeu que o areal era demasiado,
para caber no tempo de uma espera...
sábado, 20 de julho de 2013
quinta-feira, 18 de julho de 2013
terça-feira, 16 de julho de 2013
Penumbra
© Michal Lukasiewicz
um dia deitar-me-ei na penumbra de ti.
tão perto do fogo que me acendes.
vem! pois o nevoeiro já disfarçou a noite
e os corpos arrefecem distantes
da fogueira
se não forem toros adunados.
tão perto do fogo que me acendes.
vem! pois o nevoeiro já disfarçou a noite
e os corpos arrefecem distantes
da fogueira
se não forem toros adunados.
quarta-feira, 3 de julho de 2013
Desnudação
com que palavras te vestes
quando das minhas me dispo
e na nudez em que me ofereço
leio-te a dúvida de seres tentação?
[a]tira[-me] todas as palavras!
para que na tua candidez
o meu olhar se escreva
nu
e lento
se deite
na tua pele em vigília.
quando das minhas me dispo
e na nudez em que me ofereço
leio-te a dúvida de seres tentação?
[a]tira[-me] todas as palavras!
para que na tua candidez
o meu olhar se escreva
nu
e lento
se deite
na tua pele em vigília.
segunda-feira, 1 de julho de 2013
Pensamento
um dia serei o banco onde sentas os teus pensamentos
e esperarei que o teu suspiro se acomode no lugar vago
de onde parto para viajar.
e esperarei que o teu suspiro se acomode no lugar vago
de onde parto para viajar.
sábado, 29 de junho de 2013
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Vertigem
tão fugaz a tontura,
tão ébrias as palavras,
tão virgens os lençóis da noite
na transparente primeira fusão dos corpos.
terça-feira, 25 de junho de 2013
Esquecido(s)
comemos o pão, as memórias e o cheiro,
o vento cobre-nos com cinzas
talvez o passado,
porventura o presente
de horas sem fim
sem aroma,
sem lembranças,
apenas com os grãos
em que ardemos
sem percebermos
que não sendo alimento,
seremos esquecidos
antes que as horas
não tenham fim.
domingo, 23 de junho de 2013
Horas incompletas
houvesse uma hora incompleta
e nossa história fosse um corredor
de portas por fechar,
houvesse uma história incompleta
de horas por percorrer
e por acabar...
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Rendo-me!
rendo-me,
se a boca te cala
e as mãos discursam
provo-te a fome
enquanto amadureço
e aguardo,
pacientemente,
perante a impaciência
que te descontrola;
dominado
perco-me
na tua boca
nova
que não fala
e me acolhe,
em profundidade
rendo-me.
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Dá-me a noite!
dá-me a noite!
de todas a mais longa,
aquela em que nossos corpos não se cansaram
na demora de se pertencerem.
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Lembrou-o...
lembrou-o,
naquela tarde,
como à ferida quente
caída sobre o peito
onde a vida corria
sem engano.
esboçou uma linha,
simples tentativa interrompida,
pois contínua
só a mentira
mordida no bago
escorrendo
a ilusão de não ter idade.
lembrou-o
naquele pensamento
onde o amor se disfarçava
de memória.
sábado, 4 de maio de 2013
Nuno Guimarães [1960 - 2013]
Acredito que a empatia entre nós terá nascido, quase de imediato, nas primeiras palavras que nos lemos. Nos cerca de trinta e dois meses em que nos conhecemos, o que nos oferecemos foi, creio, sempre uma permuta de entendimento, de respeito e de admiração.
Era enorme o teu saber arrumar as palavras, jogar com elas, calculá-las, elaborar equações com elas, adocicá-las, mas também provar-lhes o seu flanco acre.
Permito-me afirmar que se sente como o teu sangue queimava o que escreveste. Também se te sentia a dor da distância. Porventura terá sido esta que te concebeu o amor à língua, à arte e à cultura que são nossas. Porventura terá sido ela que te deu a força para diariamente içares a bandeira do que te pertencia, do que é nosso. Porventura terá sido ela que terá permitido aos lituanos - que amaste e te amam – conhecerem, pela tua mão, a criatividade artística lusa, seguramente melhor do que muitos portugueses conseguirão neste nosso território.
Já é tarde, Nuno. Hoje, já é tarde para te pedir que não pares essa cruzada. Hoje já é tarde para te pedir que não pares de escrever. Mas hoje ainda há tempo, hoje ainda nos sobra tempo, para te ler. Uma, duas, três, repetidas vezes te ler. Até que as tuas palavras nos sejam pele. Ou então até que te sigamos ao encontro desse dia em que iremos ser felizes “voando talvez noutro céu, talvez pisando outro chão, chorando talvez noutro véu”.
Sobrevivemos-te Nuno, mas não o faremos, segura e felizmente, a muitas das palavras que deixaste como testemunho do que és. Felizmente!
Um abraço, Nuno! Como todos os outros: sentido!!!
quinta-feira, 25 de abril de 2013
Pares
gosto de provar-te a pele
lavada no viço da minha
lavada no viço da minha
tua boca alvoroça o fogo
tua boca alvoroça o fogo
aceso em noites de sede
aceso em noites de sede
transpiro a míngua do corpo
transpiro a míngua do corpo
vestido com arrepios ardentes
vestido com arrepios ardentes
de saliva debutante tecido.
domingo, 21 de abril de 2013
Renascer
a primavera
ainda não aprendeu a ludibriar a tristeza,
mas os pássaros já regressam,
tudo cresce;
há uma nova melodia
nos aromas por redescobrir,
e, nas bocas, ribeiros por inventar
de beijos por repetir;
já não preciso dos livros,
as palavras desfiam retratos
de momentos por emoldurar,
memorizo a receita para as noites deitadas no linho
e espero-te com um cálice de verão
por provar.
sexta-feira, 19 de abril de 2013
Regaço de palavras
pousava palavras no regaço.
mas não as lia!
mas não as lia!
antes esperava que elas lhe tomassem o pulso
e lhe lessem a orfandade que alaga o futuro
a quem castraram o sorrir.
quarta-feira, 17 de abril de 2013
Desnudar o segredo
desnudar-se-á o segredo
quando me despir em palavras
e for meu o teu olhar,
segurar-me-ás cada sílaba
como quem agarra a carne nua
com as unhas que deseja tatuar.
desnudar-se-á o segredo
quando me provares as palavras
e for meu o teu hálito,
saborearás cada significado
como quem se entrega à pele nua
no instante inadiável.
desnudar-se-á o segredo
quando sem palavras, revelares
ser eu
o teu segredo
nu.
segunda-feira, 15 de abril de 2013
Lentidão veloz
é lento,
não sei se o tempo,
se o passo
a que os versos se desmoronam
num querer penitente
por não alcançarem
o consentimento do destino
para serem livres
na velocidade obscena
com que o desejo
quebra o sossego.
sábado, 13 de abril de 2013
Caminhos
deixei as mãos caírem
no caminho dos passos,
talvez em busca do tacto,
porventura de um rumo...
porque os pés não agarram
e só as mãos
poderão encher-se do vazio
que a tua veste já não cobre,
pois que dos passos
remanesce o caminho
por onde o vento se arrasta
numa rota de pegadas
...
apagadas!
quinta-feira, 11 de abril de 2013
Crepitante
há um corpo que não dorme
porque a lareira crepita
e chamas
com essa voz que não ouço,
nessa vez em que não chegas,
as horas tecem um labirinto
e o fogo fraqueja,
num voo frágil de cansaço
porque há um corpo que não dorme
e é o meu,
porque o teu não chega,
nem ouves o tremor
em que me estendo,
enquanto o desejo adormece.
porque a lareira crepita
e chamas
com essa voz que não ouço,
nessa vez em que não chegas,
as horas tecem um labirinto
e o fogo fraqueja,
num voo frágil de cansaço
porque há um corpo que não dorme
e é o meu,
porque o teu não chega,
nem ouves o tremor
em que me estendo,
enquanto o desejo adormece.
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