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Quatro anos na vida
dum génio. O tempo de uma viagem. A de um elefante. Para traduzir, num documentário,
o tempo de escrita dum livro de José Saramago, o realizador Miguel Gonçalves
Mendes terá recolhido infinitas horas de película que resumiu em cerca de duas
horas e meia. Se muitas das cenas são de momentos incontornáveis, como lançamentos,
exposições ou homenagens, outras apenas são possíveis por um acompanhamento
muito cerrado ao quotidiano íntimo de um casal que abriu as portas da sua residência,
das suas divisões, mas sobretudo dos seus corações. José e Pilar mostra-nos a sucessão de dias de organização de agenda
dum homem que já passara as oito décadas de vida e que chegara à profissão de
escritor apenas duas atrás. Permite-nos entrar na dedicação duma mulher, à vida
do homem que ama, abdicando, em muito, da carreira que fizera sua. José e Pilar expõe-nos as convicções de
dois seres que, em algumas situações, se opõem com perseverança a crenças de
muitos que os rodeiam. Fazem-no por convencimento, por doutrina, por estratégia,
por insegurança? Fazem-no! Demonstram-no! Assumem-no! Como ao amor que os liga
e guia. Dois seres que se necessitam e por isso se amam. E porque o documentário
é pleno de espontaneidades, a prova desse amor fica mais transparente e mais consolidada.
Intermitências da Morte foi o livro que
me convenceu a ler Saramago. De seguida li-lhe As pequenas memórias. Contudo quando o fiz não valorizei a dedicatória
do mesmo: “A Pilar, que ainda não havia nascido, e tanto tardou a chegar”. Os
mais cépticos poderão sempre relativizar a verdade destas palavras. José e Pilar prova a sua genuinidade!