sábado, 4 de maio de 2013

Nuno Guimarães [1960 - 2013]


É tão vasta e abrangente a sua escrita que quase não parece possível de um único ser. Mas tu foste um Ser enorme, Nuno!

Acredito que a empatia entre nós terá nascido, quase de imediato, nas primeiras palavras que nos lemos. Nos cerca de trinta e dois meses em que nos conhecemos, o que nos oferecemos foi, creio, sempre uma permuta de entendimento, de respeito e de admiração.

Era enorme o teu saber arrumar as palavras, jogar com elas, calculá-las, elaborar equações com elas, adocicá-las, mas também provar-lhes o seu flanco acre.

Permito-me afirmar que se sente como o teu sangue queimava o que escreveste. Também se te sentia a dor da distância. Porventura terá sido esta que te concebeu o amor à língua, à arte e à cultura que são nossas. Porventura terá sido ela que te deu a força para diariamente içares a bandeira do que te pertencia, do que é nosso. Porventura terá sido ela que terá permitido aos lituanos - que amaste e te amam – conhecerem, pela tua mão, a criatividade artística lusa, seguramente melhor do que muitos portugueses conseguirão neste nosso território.

Já é tarde, Nuno. Hoje, já é tarde para te pedir que não pares essa cruzada. Hoje já é tarde para te pedir que não pares de escrever. Mas hoje ainda há tempo, hoje ainda nos sobra tempo, para te ler. Uma, duas, três, repetidas vezes te ler. Até que as tuas palavras nos sejam pele. Ou então até que te sigamos ao encontro desse dia em que iremos ser felizes “voando talvez noutro céu, talvez pisando outro chão, chorando talvez noutro véu”.

Sobrevivemos-te Nuno, mas não o faremos, segura e felizmente, a muitas das palavras que deixaste como testemunho do que és. Felizmente!

Um abraço, Nuno! Como todos os outros: sentido!!!