domingo, 30 de dezembro de 2012

Risco

© effraie

antes que as mãos esqueçam
colherei a alquimia do poema
até que meu corpo seja barro
e às formas do teu se molde


ah!… fosse tão simples tocar-te… 



poesia.



sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Recluso


à noite,
quando as veias esquecem ser becos
onde o sangue serena
o desvario dos dias,
ouve-se a voz de um homem,
dizem que um coitado,
um lunático,
um insensível,
insurgindo-se
contra o voo encantado
que cobre as palavras noctívagas
despertas pelos corpos
adormecidos em êxtase.
dizem ser recluso
num poema
que não é de amor!


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Caminho


irei estender[-te] um caminho até mim. 

se não o descobrires... lê!

estarei no epílogo do verso, onde teu olhar se abandona.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Presente[s]


© kregon

um plúmbeo inverno habituou-se a descer sobre dezembro.  nos galhos da árvore resistem memórias cada vez mais esgaçadas de ilusões. suspendem-se desencantos desse sempre que se julgara infinito. cintilam fugazes relâmpagos de lembrares hipócritas. por desembrulhar, apenas um incógnito futuro.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Limites



diz-me
onde começa o teu corpo
e acaba o meu
quando o movimento
é uma dança
de ritmos indefinidos
e a luz
se contorce nas grutas
que um abraço
não farta…

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Nas palavras


há um mar revolto nas palavras.
e tu não sabes se são água, se lábios.
leva-las à boca
para experimentares a ondulação dos beijos.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Limitação


escondo-me
no recanto de teu olhar
com que espreitas a cegueira 
de não me veres
defronte de ti
na saudade de te alcançar
em mim.


domingo, 16 de dezembro de 2012

A[r]ma[r] [a]o Jogo



vou procurar-te um coração no olhar,

apostar nas copas de teu peito
e ganhar a cor do ouro
com que me jogarás a noite!


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Se...

© kiti

se me deixasses entrar em ti...
como às palavras que em mim acirras 
por te desejar
mas permanecer,
sem saber por onde te abres 
em portada, para me acolher.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Tardar


subo o olhar até aos lábios
que te secam
por tardares a permissão de desaguar
em rio,
na tua boca.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Amar_ar


esqueci-me que o mar é, tão só, um livro onde fechamos o olhar antes de nos deixarmos invadir pelas páginas de quimeras... por enfrentar.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Cegueira


cego-me nas noites em que o teu corpo no meu,
apenas me deixa ver um nó imutável.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Sombras


sombras,
tão só sombras,
que rumo tomou a luz?...


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Joaquim Benite [1943 - 2012]


há quem nasça guerreiro porque a natureza o fez fibra em filamentos de coragem e força.
há quem lute por amor e nele [se] edifique. 
há quem nunca deixe de o ser!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Antecipação


no meio de tanta agrura, toda a atenção confluía para aquele quadro vivo, onde a música fecundava o olhar. tudo parecia perfeito. tão perfeito quanto só o pode ser o instante que antecipa a destruição final.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Finitude(s)


como se fosse promessa, soletra as memórias e encaixa-as em metáforas. possam os versos ser geometria de múltiplas relações que lhe atravessam o passado. descrava-as da carne que não sabe a quem pertence, mas é seu o sangue que lhe escorre nas mãos. fios de vida extorquidos à eternidade com que se faz finita cada aventura, cada paixão, cada luta, cada história. efémeros como o inspirar que lhe é sobrevivência e subserviência.
clama: perpétua é a morte! que me apagará a confissão do futuro, como um sonho inalcançável.


sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Quando urge o regresso



circular
é o caminho de regresso que faço
à partida;

útero,
como se a necessidade fosse vontade,
ou a vontade necessidade;

ventre ou boca…
tão frágil é a verdade,
quanto é verdade a fragilidade.

Em fuga


porquê procurar-me
quando nem eu próprio sei para onde fujo...
de mim.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Finais


por vezes, a vida deixa-nos num cais sem partidas, nem indicações de destino; e o único comboio que passa é o do tempo que, numa espiral, nos transporta para um vácuo no centro de nós.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Dias toldados


... e os dias transformam-se em paredes;
cercam e adensam-se desfocando a saída.

sábado, 24 de novembro de 2012

Certeza


morrerei!
mais perto
do que o ocaso

das palavras.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Arrepio

© Imogen Cunningham


desnudou-te a noite;


e eu colho pétalas
nos arrepios da pele
com que te vestes.



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Passagem

© Nood

somos passageiros
de um tempo
de amor
decantado
entre desencontros
e ilusões de romance.

domingo, 18 de novembro de 2012

É!


é quando me tocas 
com as mãos,
com o olhar,
ou com o amanhã das palavras ainda quentes da escrita
...
que mais gosto de te ouvir!


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Leva-me


leva-me para tua casa,
lá onde o lume te arde em segredo
e a noite se faz fogo no prolongar da saudade.
leva-me para tua casa,
lá onde o silêncio se bebe
e os caminhos se perscrutam em cascatas de afecto.
leva-me para tua casa,
lá onde os voos se sepultam 
e as sombras adormecem em ninhos inflamados.
leva-me para tua casa
onde me queres habitante de ti!


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A Cidade [de Olga Roriz]



será a neblina uma barreira
ou um preâmbulo de partida?
de um corpo que se desdobra,
memória de um mapa por percorrer.
chove e mitiga a densa envolvência
de um piano minimalista
que se cega em repetição contigua
violada pela imposição de um violino.

horas que se acrescentam
à rotina dos dias,
abraços que se inventam,
visões de futuro
ou talvez retratos do passado,
corpo que permanece
no abrigo do desabrigo,
decomposição impossível de reciclar.

percursos de exaustão
em que nos perseguimos a nós próprios,
fuga às horas
na repetição de roteiros,
cantilena pela viagem de um repasto
que não chega.

pela paisagem multirracial musical
o desfile em metamorfose
dos transeuntes citadinos.
quadros de uma cidade edificada
nas ruas que correm dentro de nós!



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Sonhar...


sonhar,
HOJE,
será inconsciência 
ou uma réstia de infância 
enfrentando o naufrágio?...


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Crescendo



ensaiam-se as bocas
como se não fosse certeza
o caminho das mãos,
adiantam-se os minutos
no correr dos corações,
confina-se em apneia 
a consignação dos sentidos
e
quando,
com tua voz

húmida,
me dizes
'entra',
despeço-me da terra
para correr ao teu encontro.



terça-feira, 6 de novembro de 2012

Rascunho


desenho a palavra

mas não sei
se será pergunta,
se resposta...

talvez apenas sedução.


domingo, 4 de novembro de 2012

Vestir_es


vestisse-me eu com palavras
e não as despiria
até que as recolhesses 
para com renovadas me cobrires.


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Respostas


Pergunto-te!
mas não peço palavras na resposta.
aliás só te quero réplica
no ciclo imaginado
onde as maçãs amadurecem
e se mordem.
Virás! eu sei.
ainda que só em desejo, eu sei.
com um trago de resposta
para me salivares a boca
quando em orvalho te abrires.
Engolir! é este o verbo sonhado.

Quando a noite se molhar
acorrentaremos o universo na indiferença,
recusaremos o linho,
subiremos ao infinito ardente,
acenderemos o crepúsculo da tentação
e cantaremos
essa resposta que nos damos,
em que nos escrevemos
e em que nos fazemos
pergunta saciada.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A Luz entre Oceanos


As palavras não rebuscam qualquer sublimidade literária. Mas arrastam-nos para um oceano de intensidade, no qual nos queremos manter náufragos, flutuando sobre cada pormenor da narrativa. É uma história que se sente por dentro e se acompanh
a no sabor das marés ora beijadas pela tranquilidade, ora assoladas por tempestades. É um livro sobre amor. Ou sobre amores. Das suas forças, das suas mágoas, do quanto poderão silenciar a razão, do quanto poderão ser feridos por ela. É uma obra que confronta os instintos e a racionalidade. É um livro em crescendo de emoção. E comoção. Toca-nos porque nos perturba, como um oceano intimado por ondulações. Leva-nos para lá, para o âmago das cenas que, ainda que estranhos, contemplamos a partir de dentro. “A Luz entre Oceanos”, de M. L. Stedman é uma prova de que o amor pode ser uma teia de laços indestrutíveis.

M. L. STEDMAN . A LUZ ENTRE OCEANOS
Editorial Presença, Julho’2012

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Sonhar


sou saudade de quando derramavas em mim o olhar dos teus sonhos.
hoje adormeces e eu não te vejo o sonhar.

sábado, 27 de outubro de 2012

Sobrevivências



e quando terminares o poema,
não ponhas termo à vida!
inicia outro,
como se a hora estivesse vazia
e me procurasses nas sombras
das palavras que irei beber
para sobre_viver!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Reinício


troquemos palavras
como se abraçam corpos
e quando a noite descer
deixemos escorrer a espuma das sílabas
e ensaiemos um novo poema de sedução.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Hoje...

© Molly Magdalain

hoje, um só beijo bastaria para confirmar que tua boca ainda tem sabor.


domingo, 21 de outubro de 2012

Regressos



Vens e partes, deixando-me nos arrabaldes da inquietação.
Um vento fustiga a cidade e o Rossio guarda-se no meu peito.
Chove, mas talvez sejam lágrimas do rio salpicando as colinas.
A Baixa ficou deserta, na minha cama só eu e o tempo
contado em avenidas, desencantos e pregões perdidos,
abandonados pelas varinas em canastas de soluços.
Ao longe ouve-se uma guitarra, ou o vibrar de uma memória.
Olho o castelo, transpiro-me do suor frio da Alfama assustada, ouço passos;
ecoam nos corredores pombalinos em direcção ao Tejo.

Chegam ondas e espero que sejas uma delas.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Noite(s)


a noite descalçou as palavras
e depois acordou-as para que fossem grito.
frágeis serão, sempre, as noites incapazes de emudecer.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Em Turbilhão



há uma distância
que a loucura das tuas mãos agarra,
com elas
destróis a fronteira construída para me delimitar o corpo,
depois… fazes de mim ave
mas não me dás asas,
prendes-me
a esse paraíso para onde corres
quando o desejo te habita.

é então que me esqueces,
por entre o acordar dos gritos,
o desalinho dos linhos,
o descolorar das cores,
antes de regressares,
de loucura adormecida
e deixares o tempo tomar conta de ti
depois de o aprisionares em mim.



segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Verbo


não te sei o nome,
nem o corpo,
nem a boca,
apenas este verbo
com que te beijo
e me deixa a esperança
rouca.

sábado, 13 de outubro de 2012

Pedra_das... XXV


quando te entregares,
nada deixes para amanhã.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Pedra_das... XXIV

© barbara

a esperança mora numa rua onde a espera não desespera.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Pedra_das... XXIII

© martin zalba

e subitamente
os actos desmoronam-nos as palavras!


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Pedra_das... XXII



a tentação é uma janela por onde voarás
quando fores incapaz de reconhecer
que o amor é uma vida amarrotada em ti…

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Claridade de um rosto



intemporal 
é a idade da manhã
que me acorda o olhar
sobre o teu rosto,
lavando em claridade
a cinza dos dias.


terça-feira, 2 de outubro de 2012

Ao vento


regresso-te ao corpo
- como o veleiro elege marés
onde amaina em tempestades -,
ventos de desejo
sopram-me segredos de sonhos desfraldados,
fundeio-me em ti,
entrego-te a minha âncora.

apaga[-me] o mapa da partida!