quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Ali


Ali…
exactamente ali
onde nada se passa
e tudo acontece,
onde o voo levanta,
o paul nasce
e o meu desejo entorpece,
ali…
tão longe daqui,
tão perto do sonho,
orlas duma viagem
dentro de ti!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Em volta das curvas


Volto à curva do tempo
à procura de mim,
na espera de te reencontrar,
mas o presente fugiu
por uma recta
onde o passado se escoa…

em volta permaneço
dum centro que não descubro
enquanto o tempo te leva
para um futuro onde não pertenço.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Onde?


Onde estão os passos que quero sombra dos meus?
Onde estás nome que quero chamar?
Onde te escondes mão que quero rede para a minha prender?
Onde estás caminho de que preciso ser rota?
Onde ficas destino em que me queres morada?

domingo, 26 de dezembro de 2010

Desvendado


Gastei as palavras,
os segredos,
os caminhos
e os sonhos…
Despi-me e mostrei-me!
Hoje,
nada resta por desvendar,
nada tens por [me] descobrir.
Sou sol sem a espera do Inverno,
o verso que já se conhece,
a doutrina que já se pregou.
Sou o livro, que de tanto leres,
te cansa,
e fechado deixa-lo sobre o nada,
pairando numa queda sem solo,
esquecido num futuro
que perdeste curiosidade em abrir.

sábado, 25 de dezembro de 2010

[In]Definições


É tão efémero o eterno
quando a dúvida se imortaliza no terreno da certeza...

Nas cinzas da consoada


Arrefece a esperança
enquanto a espera se estende
pelos talheres e copos intactos,
cerram-se as pálpebras do prato resfriado
pelo aroma fumegante que não chega
e abate-se a penumbra da ausência
no lugar aceso pela chama da ternura…
as memórias ficam por acontecer!

Na senda dum Natal


Deixa-me ser estrela
nas trevas dos teus dias,
pela sombra das memórias
reinventemos um novel nascer,
desvenda-me a receita secreta
para o caminho da tua consoada
e não te corroas na lareira da saudade
pois os corações ainda batem…

Vem ser vela
a arder no meu Natal!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Páginas molhadas



Pudera eu esgotar os sentimentos
como se gastam as palavras,
não sentiria esta chuva
impregnar-me a alma
e encher-me páginas
onde as lágrimas não secam…

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Solidão


Quando o eco dos meus passos
ouço acima do burburinho da multidão,
há um vácuo invadindo esta redoma
onde o sangue esfria
e as palavras são um silêncio inexplorável.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Sem Festa




Parto vadio
para uma folia onde não me quero
e para esquecer
que não te tenho
na festa
a que sonhei que quererias vir,
sem convite.
Só porque serias,
tu própria,
a festa!
Onde me quererias…

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Deixo-te o amor


Antes da morte
deixo-te o amor
mesmo que a leve,
à vida,
presa em cada sopro
e vá morrendo
antes do termo.

sábado, 18 de dezembro de 2010

[Re]Verso_s


Sou frente e verso
deste estar em que parto,
reparto-me e fico inteiro
sentado na espera
de permanecer de pé,
em pé
na expectativa de me sentar
lendo o reverso do que sou,
escrevendo o que sou
em verso…

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Em queda


Prendemo-nos ao que nos prende,
seguramo-nos e somos levados
por um fio ténue…
uma voz imperceptível…
um sopro de magia…
uma vontade inquebrável…
como um balão de sonhos insuflado,
como uma corrente no lodo dragada,
suspensos
até que nos desprendam
e desapareçam os nós
que não existiram
e flutuamos
em queda
sem adivinhar a recepção,
sem escolher a aterragem,
sem saber se sobreviveremos...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Fim


Na queda da primeira pétala
o lírio sentiu o golpe da traição,
arrancou sem furor a raiz
e ignorou a lágrima que lhe aguava
o ‘cale-se!’
Ouviu o silêncio brotando do vazio,
colheu sementes de solidão
germinando o degredo da noite
e percebeu que o nós
deixara de ser
um plural de si.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Conjugações


Desmembram-se pedras duma muralha
amparo dos dias
onde edifiquei meu peito,
verbo sem tempo
conjugação prioritária
no infinito…
Penetro teu corpo
com meus dedos
mas já nem sangue sinto
no aroma húmido da vontade,
enigma cuja chave
foi futuro
sempre presente.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Restos


Restam sem nome
retalhos de memória
cerzidos pelo desejo
em mantos de múltiplas faces

resta inteiro este nome
com que me escrevo sem memória,
face única dum desejo
coberto de dias por apagar

restam ilegíveis as páginas
clamando pela chama acordada
da minha pele tantas vezes escrita
na areia onde os sonhos
são praia perdida no teu nome.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Porque é Hoje!

Quero morrer no poema
onde o teu olhar seja rima derradeira!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Alvorada anoitecida


Vais deixando teu rasto de ausência
num futuro onde semearas alvorada,
escurece neste tempo presente
onde foste sol iluminando a noite.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Madrugada roubada


Roubas-me a madrugada
quando despes a noite,
deixando-a nua de abraços
e o meu peito órfão do teu,
soletrando a memória
da sede em que me bebes
oferecendo-me abrigo
na gruta em que te abres...

domingo, 28 de novembro de 2010

Está um frio...


Imperceptíveis e silenciosas
apagam-se as velas
que um dia em mim acendeste,
reduz-se o pavio da paixão,
fogueira em que ardemos,
esgota-se a cera
e dissipam-se as sombras
nos lençóis arrefecidos
onde o meu corpo esfria
na ausência do teu…

sábado, 27 de novembro de 2010

Na viuvez do nada


Numa folha de mármore
tracei a rota proibida dos sonhos,
ecos frios de corações
no horizonte branco desguarnecido,
colhi o hálito quente dum nome
na luz turva da voz por fecundar,
bagos de segredos pendentes
suspendiam-se acima das mãos virgens,
sou alvorada interdita
na página inerte da escrita,
esconderijo desta paixão estátua
onde as aves poisam a mágoa,
violando a viuvez dos ramos
semeados em palavras por desnudar.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Chove em mim


Chove em mim!
como a inevitabilidade do Inverno,
a saudade de Agosto
ou o Outono que se antecipa…
chove em mim!
sinto falta da tua boca
e os teus beijos são oásis
no deserto em que não me quero.
chove em mim…

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Franja


Tão frágil fica esta franja
em que pendurados
nos deixámos abraçar
pelo sonho esquizofrénico
elevado acima das raízes,
soberbo além das raias do universo,
tão débil ela fica
quando as palavras se apagam
como se um sono esclerosado
abarcasse os ramos dum abraço,
tão ténue ela se torna
no rumo desencontrado das almas
naufragando em mares distantes
picados por poentes opostos…
Tão quebradiça fica a orla do amor
se a saudade perde significado
e a paixão se destruiu
na amnésia do passado adiado.

Silêncio[s]


Desaprendem-se as palavras
nos terrenos onde o orgulho e o egoísmo
se tornam armas inflexíveis.

Porta


Cansei-me de deixar a porta aberta, de par em par.
Faz frio cá dentro, vou encostá-la…
o vento da distância acabará por fechá-la!
se vieres, bate!
abrir-ta-ei se o meu coração ainda te lembrar!

domingo, 21 de novembro de 2010

Imperceptivelmente



Deixo, pela casa,
o sabor fossilizado dos beijos,
a ternura abandonada dum abraço,
o aroma interrompido do sexo,
as palavras gretadas sem resposta…

Perco-me sem rumo
na direcção desse muro
erguido pela erosão da paixão.

Perdi
a seda dos teus dedos,
a humidade dos teus lábios,
o fogo do teu olhar,
a torrente do teu querer,
o relevo do teu corpo
a que me moldava
em tantas horas de solda,
esquecidas em nós…

Liberto[-te]


Saio
deste cerco
em que me fechei,
em torno de ti,
e liberto-te
duma prisão
em que não te quis,
encerro-me, então,
nesta cela
que me prende
em mim,
fora de ti,
num espaço
onde entro
só…

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Folhas arrancadas

© Marco Tajé



A justeza do sonho colide
com a luminescência da razão,
refugiam-se as palavras
em afectos  dolosos,
inábeis de escrever
palavras empedernidas.
Desavém-se a vontade
num cerzido de significados
lavrados sem semente,
cercado de incertezas,
caem horas, caem dias
a um listado sem título
e fica baço o almanaque
onde inscrevemos as vidas.