sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Desvelar


Trouxe o fogo do mar
em ondas
para derramar sobre teu corpo
e ser areal virgem
que tuas mãos, em lume,
desbravam
até não haver mais noite,
nem velas,
por apagar…

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Acqua IV *


à superfície
a virgindade que meu olhar espreita
e, em silêncio, anseia desflorar
ao alcance dos segredos
que a transparência oculta
mas chama[-me]
para mergulhar
em vagas
que são o teu grito
[que não ouço]
porque quero calar…


* título aproveitado do álbum a que a fotografia pertence

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Pedra_das... XIII


talvez um dia te leia a profundeza das águas

quando teu olhar for fluido sobre a folha branca da minha sede.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A Cadeira do Tempo



Tiro ao tempo a cadeira
onde se senta
à espera que eu me canse
e desespere
e consumido
e exasperado
me deixe manietar pela sua implacabilidade.
Ah... pudesse eu tirar o tempo à cadeira
e sabê-la sem idade,
abrindo-me os braços para um enleio,
convidando-me para o descanso de sentir o tempo passar
como uma brisa que não me inquieta
porque descanso ao vê-lo suceder-se,
imperturbável à sua teimosia
em não se moldar ao meu caminhar.


domingo, 19 de fevereiro de 2012

Pedra_das... XII



arde num fogo por atear, o limite do grito que é sonho desenhando-se contorno dum coração... a descobrir e inspirar.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Achado


No teu corpo encontrei um poema.
decifrei-o
linha por linha,
no tacto do olhar…
perdido,
não sei se estaria o poeta,
se o desejo
se eu próprio…

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Corpo semeado

© DDiArte


Semeei palavras no teu corpo,
desconhecendo ser rio,
por onde meus dedos correm 
na demanda dessa margem 
onde tua boca silencia
os cânticos de desejo.


domingo, 5 de fevereiro de 2012

Fragilidade

© miran

De porcelana
é a [tua] fragilidade que me fortifica.
De tão óbvio
o risco não se traça
e eu não te toco
para não quebrar a distância que nos aproxima.
Teu rosto
é um traço que me desenha
sorriso quebrável
que estilhaça no teu olhar
forte como a debilidade em que me recolho
na obviedade de te contemplar
e ser chão
onde cais.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Pedra_das... XI

© Kevin Ng

a noite anda perdida em ruas de olhares sem direcção
procura uma partida que lhe anuncie o acaso da tua chegada.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Nua a noite

© DDiArte

No quarto nu
despimos os corpos,
a noite veste-se desse todo
em que mergulhamos
para ser nada,
nada mais que nós,
nós de dois corpos atados
na sofreguidão desmedida
que cola as peles,
tão perdidas na doação
de se vestirem
na nudez de serem
lume
no quarto frio,
despido pela noite
nus estão os corpos,
no encalço do sangue fervente.