segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Sei de ti


Do teu corpo
sei o cheiro
de fêmea que me seduz,
sei as formas
que as minhas mãos moldam,
sei as cores
que as minhas noites temperam,
sei a carne
que a minha fome prova,
sei a rota
que descubro
para em cada entrada
me perder…


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Escadas Esquecidas


Quando a necessidade de dizer
se espaça na escadaria do tempo
arrumam-se nas criptas do silêncio
as réstias de magia que a separação
esquecerá…

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O nada de tudo

© Mal Smart 


Há um nada que se esgota
nas paredes finas da madrugada,
prolongamento de dias arrastados
na repetição de palavras ‘surpresa’
que de tanto ouvidas são banais,
ergo monumentos de memórias
onde os versos foram novo alvorecer
e no tabuleiro embaciado da vida
reúno as regras gastas do poema,
enquanto o romantismo se esbate
neste tudo em que, hoje, sou nada.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Nas cores do prazer


Vou dançar dentro de ti
até que a vontade fique rouca
e se minhas palavras não ouvires,
foi porque a minha língua
se perdeu na tua boca.

Distâncias

© simay zsolt
Contigo,
aprendo a não sofrer a ausência...
de tão longa a fazeres,
esqueço a fome,
a sede,
o voo
e aterro...
tão longe de ti.
 

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Leva-me


Leva-me
por essa floresta
onde silêncios desmedidos
calam gritos de desejo
e os nossos olhares cegos
tocam o cume da noite.

Leva-me
por essa planície
onde os lagos se inundam
com humidade extrema
e a minha boca enlaça
as cúpulas do teu peito.

Leva-me
por essa cidade
onde as ruas se rasgam
sob a contenção respirada
e nossas mãos devoram
terrenos por destapar.

Leva-me
mas deixa-me ficar
no íntimo do teu leito
onde o derretimento desperta
nos corpos copulados
entorpecendo no enleio
dos sentidos.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Amar?


Quero amar
espontaneamente
sem pensar,
sem prever,
sem acautelar,
sem me conter.
Quero amar
com a ingenuidade
de acreditar,
sem duvidar,
sem desconfiar,
sem questionar.
Quero amar
sem doer,
com um sorriso no peito
e uma mão cheia de sonhos
que sei ir realizar.

Será possível amar?

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Ontem guardado no bolso


Senti algo nos dedos
olhei, mas nada vi…
cheirei, mas nada detectei…
provei e souberam-se a saudade
daquele ontem ainda tão perto
mas hoje tão distante,
da minha pele desnudada na tua,
das horas insaciáveis
corridas em minutos fugazes,
do turbilhão nas bocas,
da tempestade nos corpos,
dos sonos em contínuas alvoradas…

guardei a mão no bolso,
fechei-a apertando os dedos,
espremendo a secura
desse nada que me ofereceste
saudoso do ontem absoluto.

Telegrama


Talvez consiga tirar-te dos meus dias,
mas não sei se dos meus sonhos...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Chama


Vem deitar-te neste fogo,
lareira no meu corpo a arder
e antes que as cinzas soçobrem
ao decrepitar da noite,
deixa-me consumir a tua sede,
todos os dias que me faltam
antes de perecer!

Será amor?


Será amor,
o sentimento que se troca por orgulho, no desperdiçar dos dias?...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Tenho um rio a voar em mim



Era um rio inteiro
que me cortava a carne,
sulcando veias
em refúgios de tempo,
travessias mudas na solidão.
Corrida para o amanhecer
duma noite permanente,
explosão do universo
num copo de sede.
Ouvi o bater das asas,
voo de pássaro em torno da gaiola
procurando invasão
duma prisão voluntária,
temporária,
fugaz mas eminente.
Senti
o aroma inebriante,
droga estímulo
que me cega
e adormece,
nu teu corpo
poisado em mim,
na minha pele exposta,
areia despida
para abraçar o sol último,
as mãos
entoando um cântico
em pujança,
em clamor,
a êxtase
escrita poema
sob o olhar duma ave
presa no leito dum rio
em que a noite se abrasa
e a manhã entibia.

Tempo sem tempo


Sento-me num degrau sem tempo
à espera que o tempo passe
e um olhar venha bordar
o acelerar deste tempo
que passa sem passar
apagando o tempo
para te olhar.

Esboço


seja meu corpo tela
e teus dedos carvão
esboçando com desejo
a cor da tua inspiração

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Medo


O medo chega
quando a presença parte,
abraçado na dúvida
cresce no tempo que sobra,
arde no ensejo de pensar
e queima a confiança.

Só não sei onde se esconde
sempre que não sinto
a minha mão nua…

Hoje


Quanto quero
ficar num hoje
abrigado por ‘ontens’ oferecidos…
estilhaça-se a certeza de o conseguir
e a ilusão pinta-me a inquietude
deste nada que me sobra.
Amanhã
é, apenas, um futuro inalcançável
por este hoje
que cuidara saber
fazer feliz.

Desilusão



Desvanecem-se os sonhos
no acordar dos dias
em que a felicidade mais não foi
do que uma miragem...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

As primaveras não são eternas


As primaveras não são eternas,
enruga-se-me a esperança
a cada noite abandonada,
em cada mão vazia que me deixas
adia-se uma vontade por preencher,
o horizonte distancia-se,
desenha-se errado o caminho
e regressar
é um tempo que a vida não conjuga
na cronologia dos dias.

Vestido despido


Visto-te com as folhas de Outono
pois na certeza das estações
sei que o teu corpo se despirá
para me abraçar a Primavera!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

À beira da rendição


Deitei-me
no sonho teu pedido,
ali entre o oceano e o cais,
entre o navegar e o ancorar.
Era de areia o teu leito
quente como o sangue
perdido pelas veias
na busca de evasão.
Deitei-me
bem perto do mar de palavras
e com elas descalcei o embaraço
de te falar do sentimento,
movimento de ondulação nos dias,
mergulho em que me desfaço
na espera de emergir
espera do teu olhar.
Deitei-me
assomando a tua fantasia,
despi-te os últimos pedaços
e fui sargaço
cobrindo a tua pele.


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Aposta



Que a tua aposta próxima
seja a derradeira!
Fá-la com a convicção da derrota,
de quem sabe que perdendo
vencerá,
pois ao perderes
sabes que te perderás,
em mim,
te encontrarás.
E a última aposta
será a ganha
de te encontrares
rendida
à minha aposta
de te querer!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Escombros


Dos destroços do poema
emana um odor a sonhos moribundos,
reconhecem-se fragmentos de sal
na tatuagem de lábios gretados
pelo sol do silêncio,
ofuscam-se caminhos extintos
por mapas de miragens nunca alcançadas
e na penumbra duma ilusão
crava-se o olhar vazio do poeta
subsistindo, em escombros, uma alma
que um dia foi poema.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Dos barcos primeiros



Dos barcos primeiros
já não lhes sei a rota,
apagou-se no linho esgaçado
das camisas despidas
onde os navegantes deitavam nativas
oferecendo-lhes o sal do corpo
em troca da virgindade das noites,
em pepitas de segredos
depositando lágrimas não choradas
ressequidas num cansaço supremo
em combustão mais célere
do que o fogo enlevado,
ateado na carne por explorar.
Dos barcos primeiros
já não lhes sei a rota
diluiu-se em tragos de álcool
preferido para esquecer os regressos.


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Ilha


Leva-te o vento
num voo desgarrado
distante desta ilha sem brisas.
Percorro alamedas de noites
na torrente de dias
pelos quais as marés se alongam.
Caem gotas nostálgicas
nos lábios por abrir
vertendo dessa fonte
onde remendo com desejos
o tempo inacabado
em que me perdi do teu olhar.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O meu País


O meu País fugiu para o mar!
levaram-no as conquistas, as descobertas…
instigado pela sedução
atraíram-no as especiarias,
cobriu-se de mirra,
vestiu-se de sedas
e amou novos corpos.
Diz a História
que o viram noutros continentes,
com outras gentes…
sigo um caminho mar-adentro
à procura do seu regresso!