sábado, 23 de janeiro de 2010

Sutra


imagem recolhida aqui

Os instrumentistas surgem-nos como intérpretes duma fotografia que nos é revelada com característica de ‘marca d’água’. É o primeiro sinal do cuidado, do bom gosto e da qualidade impostos aos elementos cénicos. Sucedem-se, numa desmultiplicação inebriante, imagens fascinantes jogadas com os cânones dos dezassete monges chineses e das caixas que lhes servem de habitáculo, de refúgio, de esconderijo, de escudo…


Poder-se-ia considerar que o bailarino ocidental determinaria e controlaria a organização de todo o espaço e dos movimentos conjuntos imprimidos às caixas. É mais um momento cativante quando são, por ele e em simultaneidade, movidas as maquetas das peças com que os monges enchem o palco numa organização milimétrica. Acabar-se-á, porém, por revelar domado pela força dos que usam a mente para conduzir a vida.


Sutra desenvolve-se numa sucessão talvez exaustiva e porventura demasiado circense de movimentos típicos das artes marciais, de que os monges chineses se revelam exímios executantes. Irrepreensível e admirável a composição matemática com que Sidi Larbi planeou e pôs em prática a animação das caixas, sedutora a panóplia de ideias que lhe permitem atribuir incontáveis utilizações dessas mesmas caixas. Contudo, no final, fica a sensação de que a obra é apenas isso… uma mostra das possibilidades do corpo, quer enquanto intérprete único, quer explorando a sua relação com uma caixa de madeira. Faltará uma mensagem mais forte, uma transmissão de sentires que dialogue com a pele. Será impossível aliar a emoção e o cálculo?

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