imagem recolhida aqui
Os instrumentistas surgem-nos como intérpretes duma
fotografia que nos é revelada com característica de ‘marca d’água’. É o
primeiro sinal do cuidado, do bom gosto e da qualidade impostos aos elementos
cénicos. Sucedem-se, numa desmultiplicação inebriante, imagens fascinantes
jogadas com os cânones dos dezassete monges chineses e das caixas que lhes
servem de habitáculo, de refúgio, de esconderijo, de escudo…
Poder-se-ia considerar que o bailarino ocidental
determinaria e controlaria a organização de todo o espaço e dos movimentos
conjuntos imprimidos às caixas. É mais um momento cativante quando são, por ele
e em simultaneidade, movidas as maquetas das peças com que os monges enchem o
palco numa organização milimétrica. Acabar-se-á, porém, por revelar domado pela
força dos que usam a mente para conduzir a vida.
Sutra
desenvolve-se numa sucessão talvez exaustiva e porventura demasiado circense de
movimentos típicos das artes marciais, de que os monges chineses se revelam exímios
executantes. Irrepreensível e admirável a composição matemática com que Sidi
Larbi planeou e pôs em prática a animação das caixas, sedutora a panóplia de
ideias que lhe permitem atribuir incontáveis utilizações dessas mesmas caixas.
Contudo, no final, fica a sensação de que a obra é apenas isso… uma mostra das
possibilidades do corpo, quer enquanto intérprete único, quer explorando a sua
relação com uma caixa de madeira. Faltará uma mensagem mais forte, uma transmissão
de sentires que dialogue com a pele. Será impossível aliar a emoção e o
cálculo?
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