terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Água e Fogo




Nasceste como um ribeiro, em cada quotidiano passando o teu percurso na margem onde sentado inquiria o tempo. Olhando a nascente retalhava os erros, identificava os obstáculos, tentava apagar os dias. Evitava olhar na direcção oposta. Não sei se era o céu, se a minha perspectiva. Demasiadas nuvens afiguravam-se impossíveis de dissipar. A crença estaria algures escondida sob um rochedo naquela direcção. Ou talvez não. Simplesmente num galho ao alcance duma mão aberta.


Sem saberes, sem que o percebesses eram matinais as tuas marcas onde uma sede não identificada bebia goles de carinho. Fui embarcando nessa corrente que fazias passar por mim, acordando as manhãs e adormecendo as noites. O leito ganhou volume e ao dar por isso era corrente dessa força com que um dia, nasceste em mim.


Do céu caíram raios. As nuvens perderam espessura. O calor invadiu as águas. Labaredas incendiaram os dias e o fogo começou a queimar as horas. Ardemos em cada momento e aprendemos a matar a sede no lume do inadiável.


Hoje, quando os quereres consomem o mesmo tempo, há um sol brilhante em cada peito, sulcando sorrisos na palma das mãos abertas à necessidade de se darem. Mas os fogos queimam e nem sempre se aliam. Então é necessário regressar à água. Nela procurar esses goles que desejo beber com a precisão de encontrar intensidade no amanhã…

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