domingo, 27 de março de 2011

Babel [words] *

imagem recolhida aqui


As paredes erguem-se em torres escritas por sombras. Raças distintas povoam o mapa do palco caotizando a expressão em diferentes línguas. A percussão uniformiza os gestos, ensurdece as palavras que divergem. Delimitam-se barreiras imaginárias, fronteiras de identidades a preservar. Estruturas metálicas suportam vidros invisíveis, confins de movimentos gritados. Movem-se, mudam de centro, derrubam-se, levantam-se, concêntricas transformam-se em torre, monumento indevido. A comunicação corporal ensaia uníssonos controlados, mecanicamente dirigidos. A razão conduzindo o movimento-emoção. Limita-se a geografia dos pensamentos, das reacções, das análises. Criam-se territórios para a privacidade, refúgios para o eu. Sobrevive-se numa luta generalizada, em câmara lenta cega-se na defesa do individualismo, da crença, da comunidade. Isolando-se, trancando as portas já fechadas. São diversas as torres enraizadas, crescendo em direcção a um cume desconhecido, tido como o supremo, o sublime. Quem sabe se desconhecendo que no extremo mais ermo será, porventura, possível olhar para o solo e perceber que existem caminhos partilhados, fés comuns, destinos únicos que os prendem como movimento unido, na necessidade de compreensão, no abandono pela sobrevivência, na busca pelo entendimento… e quando as palavras faltarem, recorrer-se-á à pele que se toca e explica o que a verbalização não compreende.

* Babel de Sidi Larbie Cherkaoui e Damien Jalet [no CCB]

1 comentário:

Sopro Vida Sem Margens disse...

"São diversas as torres enraizadas, crescendo em direcção a um cume desconhecido.."

e do (des)conhecido se erguem as vozes da noite que choram o sonho que porventura nos abandonou..

Amei!

Um beijinho
da
Assiria