terça-feira, 21 de setembro de 2010

"O Papel da Segunda Pele", de Vera Castro

imagem recolhida aqui

Lembro da Vera o seu carácter discretamente meticuloso, pormenorizado e perfeccionista. Algo que, para mim e não se me pergunte porquê, assentava na perfeição, na sua figura adelgaçada. Uma ilusória fragilidade cobria uma personalidade tenaz que, por sua vez, se dissolvia numa delicadeza e cuidados cristalinos. A Vera deixou-nos em Fevereiro passado, mas não o fez sem nos herdar com uma obra: O Papel da Segunda Pele. Numa edição da editora ‘babel’, este é o legado que Vera Castro passa aos que, ao contrário dela, ainda não concluíram as suas breves passagens pela vida. Na passada segunda-feira, dia 20 de Setembro, decorreu no Jardim de Inverno, do Teatro São Luiz, o lançamento formal do último projecto da Vera Castro, o ‘seu último acto’, nas palavras de João Lourenço, que a par de Miguel Honrado, Dalila Rodrigues, António Lagarto, Olga Roriz e Jorge Salavisa falaram das suas vivências com a Vera. Numa reunião de amigos, o actual presidente da administração da OPART enalteceu o altruísmo de Vera Castro quando nesta obra perpetua a memória de colegas de profissão como Nuno Côrte-Real e Jasmim de Matos, a coreógrafa enfatizou a introdução da própria Vera no livro agora publicado e a importância do mesmo para as gerações que transversalmente atravessaram a sua carreira profissional e artística. O antigo director do Teatro Nacional D. Maria II, também ele cenógrafo e figurinista, confrontou-nos com um questionar pedagogo sobre a importância do figurino nas artes cénicas e uma incursão conhecedora sobre o livro em que intervém enquanto um dos entrevistados por Vera Castro. Contudo, foi João Lourenço que apresentou o testemunho mais pessoal, mais vivo, mais emotivo de quem foi Vera Castro e do que representava para ela este seu derradeiro projecto. Memórias emotivas da mulher que vestiu o teatro e a dança, em Portugal, e fez questão de herdar a cultura portuguesa com uma obra sobre o figurino, para que uns lembrem e outros se documentem. O testamento duma mulher ‘sem idade’, simultaneamente uma homenagem aos que, com ela, partilham a aventura de desenhar a segunda pele que os intérpretes vestem, nos palcos, para seduzir plateias. Bravo Vera!

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