sábado, 4 de setembro de 2010

Banco [ou uma declaração em pé]

© CM


Talvez um dia, quando a vida for um pôr-do-sol sem esperança, peça para te sentares ao meu lado, naquele banco de jardim desviado para um tempo onde o futuro já não floresce. Talvez um dia, quando o coração fraquejar e as batidas se espaçarem, te queira sentada ao meu lado, segurando o fôlego restante, escapando por entre as barras desse banco a que o tempo foi esquecendo de dar assento. Talvez um dia, quando o sorriso se apressar num suspiro débil, te peça para não partires e ocupes o lugar que fiz teu, nesse banco que roubei a um jardim sonhado, onde te plantei para que soubesses todos os arrepios que só a pele conhece. Até lá esperarei por ti. Mesmo que apenas as palavras sejam o beijo que não te disse. Mesmo que o medo não passe dum delírio de quem ama. Mesmo que os teus dedos se limitem a ser mares nas mãos que não sei navegar. Mesmo que a ausência gele a fogueira onde nos quero arder. Mesmo que a memória se esqueça de te lembrar o olhar que te aprisiona. Eu esperarei por ti! Ficarei, neste banco que o teu olhar fotografou, à espera que peças, para me sentar ao teu lado e contemplar a planície como um futuro onde os bandos quebram a ardência da dúvida, para pousarem num banco em que, sem certezas, esperarei por ti como o sentimento que fez do teu coração, o lugar de onde não quero me levantar.

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