Poderá a morte ser uma notícia que se oferece num prato frio
e insensível? Haverá preparação psicológica que contorne a revisita ao que se
viveu lado a lado? É possível passar incólume à dor que involuntariamente se
provoca, quase como se fosse, não o mero comunicador, mas o próprio assassino?
Como cumprir princípios escritos com base na razão, mas que não viram na pele
as valas onde a guerra enterra esperança, confiança, felicidade? Até quando
pode o mensageiro resistir à necessidade de confortar aqueles que ‘agrediu’ com
a notificação menos desejada?
O Mensageiro, de
Oren Moverman, apresenta-nos a realidade da guerra por uma janela menos vezes
aberta. Revela-nos a dor de quem é incumbido de levar às famílias a notícia da
morte dum familiar, em combate. Mostra-nos o sofrimento de quem é confrontado
com as mais díspares reacções, os mais inesperados ambientes. Ao sargento Will
Montgomery é pedido que não reaja, que se limite a informar. É-lhe exigido,
pela frieza e insensibilidade militar, que não lembre as feridas trazidas na
pele, que não deixe sarar as memórias que ainda sangram.
Como pode alguém que não viveu, ensinar a viver? Só quem
sente, reunirá condições para reger a emoção. Só quem experienciou a guerra
poderá adivinhar a linguagem da morte, por ela provocada. A nós, os que temos a
fortuna de nunca a ter vivido, restar-nos-á desejar continuar a sermos simples
espectadores de histórias como esta, cuja continuação se adivinha para além
duma porta, onde se partilhará a cicatrização das chagas sulcadas pela guerra
que insiste traçar, a muitos, imprevistos rumos para a vida.
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