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Quando o presente se enche de vazio e se parece ter chegado à
estação derradeira inundada de nada, o passado torna-se caminho único. No álbum
de lembranças começam a recolher-se instantes que parecem convictos, mas que
acabam por transparecer a incerteza da recordação, a diafanidade do que foi
vivido sem o ímpeto do querer.
Regressa-se a pormenores, agora, com o olhar da distância turvado
pela necessidade de compreender melhor, detalhes forçadamente esquecidos e
ignorados. Hoje a maturidade e a posterioridade permitem rever, com
acrescentos, pedaços da vida armazenados nas memórias. Busca-se resposta e
resolução para o que não se conseguiu contestar e explicar.
O que se faz para viver uma vida vazia? O que fazer quando o
presente parece demasiado tarde para alterar o passado a que se fugiu? Escrever
com verdade uma ficção. Não desistir de encontrar e de nos encontrarmos. Perceber
que o amanhã também é futuro que nos pertence. Acreditar. Pegar no ‘temo’, que
o inconsciente fez escrever nas horas perdidas duma noite solitária, e descobrir
que apenas lhe falta o ‘a’ que a máquina se recusava escrever. E resolver avançar
e constatar que, afinal, não são precisas palavras quando o segredo está no
olhar.
Inquestionável, ainda que sem termos comparativos, o merecimento
do Óscar 2010 do melhor filme estrangeiro, para El Secreto de Sus Ojos, do argentino Juan José Campanella. Sublime
a simplicidade e beleza com que transmite como a resolução de pequenos
instantes que se adiam, ou ignoram, podem encher uma vida que se tinha como
vazia. No querer está a decisão.
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