sexta-feira, 30 de julho de 2010

Falta


Quando o silêncio é o único ruído
que risca as paredes erguidas pelo tempo
por entre vales,
onde as horas correm como rio dengoso
sem margens,
falta o ouvido onde dizer as palavras,
falta a voz para ouvir o nome,
falta a mão para tocar a carne,
falta a pele para arrepiar o abraço,
faltam os lábios para molhar o sorriso,
falta a boca para afogar o beijo,
falta o burburinho de vida,
o pulsar,
a resposta,
a pergunta,
o estar.

Quando um vento frio
atravessa a alma,
movimenta as portas,
range o soalho
e levanta as folhas,
caem as palavras secas pela inoportunidade,
perdem-se os passos urdidos na corrida,
abalam as memórias disfarçadas de desejo,
alonga-se o mutismo no tempo que não corre
e enchem-se as mãos, deixadas vazias,
duma solidão sórdida que envelhece as horas,
passando como brisa na pele que esfria.


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