Uma calçada para subir com o fulgor da paixão e descer com a convicção de regressar. Um espelho de momentos de contemplação, em que sentado num degrau observo, ouço e sinto privilégios que me sejam concedidos. Um lugar de recato onde semear divagações será a forma de descobrir novos caminhos.
Cinco anos… sobre o 5 de Julho de 2005. O tempo é agente diluente de muito por onde passamos e vivemos. Basta que nos afastemos, que nos tornemos ou nos tornem distantes. Mas há cicatrizes que mesmo saradas continuam na nossa pele. Especialmente se a nossa pele foi a roupagem que quisemos usar para vestir o empenho entregue àquilo em que acreditámos. Contudo há cicatrizes que mesmo saradas nos derramam amargura quando lembradas. Todavia há vultos do que fomos e nos impediram de continuarmos a ser, que permanecem no nosso eu. Cinco anos… passam hoje cinco anos sobre a data em que decidiram que não poderíamos mais ser. O tempo vai estancando o sangue perdido na ferida. Mas o tempo nunca será suficiente para lembrar que jamais será compreendido o que não tem explicação. As justificações esbatem-se no tempo. Acima de tudo porque nunca o foram. Mas o tempo faz esquecer de perguntar. O cansaço provoca a desistência. Num pequeno fôlego, hoje, permito-me perguntar e repetir: de que forma a dança e a cultura portuguesas beneficiaram com a decisão anunciada ao princípio da tarde do 5 de Julho de 2005, àqueles que apenas eram a continuação de gerações anteriores que tudo fizeram para levar longe o nome do Ballet Gulbenkian e, consequentemente, da própria instituição que o criara? Alguém tem a resposta?
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