terça-feira, 25 de maio de 2010

Inconfindências


Fora obrigado a estabelecer regras para contornar a sua ‘indisciplina’. Ainda assim confrontava-se, insistentemente, com a sensação de que o relógio corria mais do que o tempo. Só quando os alertas soavam, acordava das viagens ignorantes das horas, e precipitava-se em diabólicas tentativas de ultrapassagem a um tempo que já havia passado.

Quando ouviu as badaladas soarem na torre da sua igreja, fechou os livros que dispersara sobre a mesa, amontoou desordenadamente os papéis, bebeu a água que restava no copo e correu… ignorando os olhares que se activavam sobre ele.

Ao entrar na sacristia, vestiu atabalhoadamente o paramento que lhe fora deixado meticulosamente direito nas costas dum cadeirão. Só os fiéis mais assíduos assistiam metodicamente ao ofício neste horário. Para além disso era regra a porta principal ser frequentemente aberta para a entrada de turistas que espreitavam, observavam alguns recantos e saíam. Eram poucos os que se sentavam um pedaço de tempo nas últimas filas e quase nenhuns os que acabavam por permanecer para acompanhar toda a cerimónia, ou quedar-se em oração.

Com a lista de intenções na mão, abriu a porta, benzeu-se e moderou a corrida em direcção ao altar.

outras inconfidências I   II

Sem comentários: