terça-feira, 18 de maio de 2010

Inconfidências


As indicações que trouxera permitiram-lhe chegar, sem equívocos, da estação à morada que iria servir de primeiro refúgio nesta cidade onde passava as primeiras horas. Pousara a mala sem a desfazer e voltara a sair, sem noção de para, ou por, onde ir. As ruas estreitas davam-lhe a ideia de estar num bairro muito antigo, tradicional, de baixos recursos, certamente com muita história, com gente de idade muito avançada. Ao acaso, entrou num beco até cruzar uma perpendicular que percebeu descer em direcção a uma rua mais larga. Estava a sair do bairro. Os carros cruzavam-se em dois sentidos, num movimento permanente. A luz parecia irradiar dos dois lados. A sombra que lhe cobria o caminho abria-se, de ambos os lados, em largos de claridade. Passavam turistas de mapa na mão, verificando as identificações toponímicas. Optou por virar para a esquerda. Em pouco mais de cem metros entrava numa zona ajardinada, delimitada por um muro de onde se avistava um mar de céu desaguando sobre as telhas dum areal de edifícios das mais diversas dimensões. Estava num miradouro, no topo duma colina da cidade. Procurou um banco que não estivesse ocupado pelos que procuravam o registo fotográfico da vista deslumbrante, nem pelos que, alheios a ela, se entregavam à leitura dum jornal, dum livro ou duma simples folha de correspondência. Umas pequenas mesas com tampos redondos em pedra, serviam uma esplanada sombreada por árvores que impunham a sua existência e que alguns arrojados raios de sol se permitiam penetrar com júbilo. Soaram, na torre duma igreja que não deveria estar distante, seis badaladas. Captou-lhe a atenção o movimento repentino dum jovem sentado numa das cadeiras das referidas mesas, procurando reunir e transportar desordenadamente os volumes que estavam espalhados sobre ela.

outras inconfidências I

2 comentários:

Moon disse...

E mais, e mais? Continua, vá!

Zaclis Veiga disse...

me senti parte do cenário.
também quero mais!
:)
beijo