quinta-feira, 20 de maio de 2010

Sopra um vento quente


Sopra um vento quente na vela branca do barco que se afasta. Não sabe, o vento quente, se a embarcação se separa se é ele próprio que a impele. A vela branca inunda-se dum laranja que pretende ser dourado, enquanto o sol desce sobre o mar, onde a ilha se aparta. Sopra um vento quente que varre a praia dessa ilha, onde as sombras se alongam distanciando-se do mar. Mergulha o dia na água onde dois seres se abraçaram. Sopra um vento quente sobre o sol que desce do céu para se esconder atrás do horizonte. Não há braços estendidos, nem olhares presos. Há um sabor de final de história sobre a água onde flutuam uma ilha e um barco soprados por um vento quente que não sabe os despegar. Recolhe-se a vontade na distância que se alonga sobre o olhar duma luz que se desencadeia. Sopra um vento quente arrefecendo o desejo de novos pores-do-sol. Adormece a ilha virando-se para nascente. Fecha os olhos, o marinheiro para não saber como nascerá o novo dia. Sopra um vento quente no escuro que abraça as novas horas. E quando a bola de fogo se levantar, numa nova manhã, do outro lado do mar, quem saberá dizer se os sonhos alcançarão o perfil duma mesma vela soprada por um vento quente que a assoprou para a imensidão solitária dum oceano, onde o marinheiro soltou as lágrimas de não sentir, na pele, o arrepio frio da areia dessa ilha onde deitou os seus desejos?

1 comentário:

pin gente disse...

sinti um sopro acalorado no rosto.

foi bom!
um abraço