Sopra um
vento quente na vela branca do barco que se afasta. Não sabe, o vento quente,
se a embarcação se separa se é ele próprio que a impele. A vela branca
inunda-se dum laranja que pretende ser dourado, enquanto o sol desce sobre o
mar, onde a ilha se aparta. Sopra um vento quente que varre a praia dessa ilha,
onde as sombras se alongam distanciando-se do mar. Mergulha o dia na água onde
dois seres se abraçaram. Sopra um vento quente sobre o sol que desce do céu
para se esconder atrás do horizonte. Não há braços estendidos, nem olhares
presos. Há um sabor de final de história sobre a água onde flutuam uma ilha e
um barco soprados por um vento quente que não sabe os despegar. Recolhe-se a
vontade na distância que se alonga sobre o olhar duma luz que se desencadeia. Sopra
um vento quente arrefecendo o desejo de novos pores-do-sol. Adormece a ilha
virando-se para nascente. Fecha os olhos, o marinheiro para não saber como
nascerá o novo dia. Sopra um vento quente no escuro que abraça as novas horas. E
quando a bola de fogo se levantar, numa nova manhã, do outro lado do mar, quem
saberá dizer se os sonhos alcançarão o perfil duma mesma vela soprada por um
vento quente que a assoprou para a imensidão solitária dum oceano, onde o
marinheiro soltou as lágrimas de não sentir, na pele, o arrepio frio da areia
dessa ilha onde deitou os seus desejos?
1 comentário:
sinti um sopro acalorado no rosto.
foi bom!
um abraço
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