quinta-feira, 1 de abril de 2010

Na espuma do mar

© cm

Chegam na espuma restos de mar, trechos de histórias fundeadas por bravos que ousaram julgar poder fazer do oceano, reino a governar. Sonhadores foragidos que se atreveram a explicar às ondas a incompreensão a que a terra os votava. Lutadores que morreram na esperança de que o mar, um dia, os elegeria seus amantes.

Nos dias enterraram correntes de desejo. Em ecos de silêncio prescindiram de fatias de vida, pedaços de carne que deixaram secar na sombra de silêncios expectando poder merecer sentir, na pele do coração, um abraço salgado de imensidão.

Mas o mar mais não faz do que ser confessor. Ouvir e guardar esses desesperos de quem precisa se molhar para que não se lhes veja as lágrimas se enxugarem nas mãos com que dizem ser capazes de segurar a vida. E o mar mais não faz do que devolver, em cada ondulação, réstias dessas decepções derramadas.

Chega na espuma essa ilusão de braços abertos a que os meus pensamentos se entregam na confiança de que o mar guarde, na longevidade do seu tempo, este sonho a que me atraco quando a saudade é muro que me abraça. Nos meus olhos sinto nascerem gotas que lhe entrego para que se torne mais imensa a sua vastidão. Sem que lho peça, anseio a sua revelação, muito para além do termo da minha era, de que será com pedaços de mim que ele beijará a areia onde os teus passos deixarão pegadas, sempre que lhe estendas a mão e lhe confesses o teu enamoramento.

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