quarta-feira, 21 de abril de 2010

Voo preso no porto

© Helena Paixão



Trazes um voo rasante de gaivota
nas mãos com que rasgas o peito da tarde
para desvendar puridades
cravadas no empíreo do teu olhar.

São nuvens de resistência desconhecida
os trilhos de memórias a que não pertenço,
franqueias-me o abrigo dum porto
em rumos explorados sem guia.

Contemplo a melancolia das redes
serenas no esperar das horas,
inquiro-me se suas malhas serão capazes

de escorar o amanhã, sem que te percam.

Atracam-se no cais as traineiras
onde embarcas sonhos de recordações,
partiram para descanso os marinheiros
e tu tomas a proa dum mar por enfrentar.

Permaneço num abrir de peito
onde te sinto as mãos, leme sem destino...
arrastam-se as gaivotas num voo planado
e eu, desembarcadouro de dias por agarrar,
percebo que só os seres alados
poderão ter a veleidade
de navegar sem âncora
nem a cabos aprisionados.


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