quarta-feira, 23 de junho de 2010

À noite, à espera dum dia

© staffansladik



Quando a noite esvazia o cais e os abraços partiram com as últimas embarcações que largaram amarras, alongo-me na contagem das marés, enquanto o odor das memórias se dilui nos segredos exalados através das sarjetas do passado. Arrefece-me a pele no constante adiar da tua chegada, interpolada por esporádicos regressos em que não permaneces. Salga-se o sono onde não adormeço e das mãos vazias voam caravelas com mastros alados, procurando a rota dos teus passos para me trazerem silhuetas dos teus sonhos onde me encontrar. Molho os pés no areal onde esquecidas ficaram redes exaustas da faina. Enredam-me na poesia roubada aos cânticos dos cardumes que deixaram, intencionalmente, fugir. Prendem-me a garganta num nó que as mãos não desenlaçam. Não abro os olhos para ignorar serem teia do teu amor a que me algemo, na vontade de esperar por mais um dia no teu acordar.

1 comentário:

pin gente disse...

deita-te comigo, para acordarmos juntos. a nossa casa é esta, não partas sem mim! soltaremos amarras de mãos dadas e todos os cais reconhecerão a nossa caravela. quando a brisa soprar amena cantarás nos portos anunciando a chegada dos amantes que partiram rumo à felicidade. os cardumes acompanham a embarcação na crista das ondas e as nuvens abrem a boca ao beijo do mar deixando-se adentrar em jogos de prazer.
deita-te comigo, para acordarmos juntos. a nossa casa é esta, não partas sem mim!


um abraço
luísa