quarta-feira, 24 de março de 2010

Carta de espera


Cansa-se-me o olhar de fixar o horizonte na espera de descobrir o mastro do teu sorriso por entre os troncos de dúvidas com que foste enchendo o tempo. Serenaram as águas onde o vórtice da paixão criara marés na calmaria das horas. Pouco mais sobram do que reflexos, sombras, ecos no vazio com que o dia me esquece. Calaram-se as palavras, secas pelas sementes de desprezo que soltaste no abandono das noites. Arde, cada vez mais distante, o fogo em que cri acreditarmos, brasas que foste esquecendo atear conforme a tua margem, mais ausente foi ficando da minha paisagem. Esvaziou-se de pegadas o caminho onde trilháramos os passos que quisemos fazer uníssonos. Até as aves parecem ter mudado o rumo enfadadas de nos deixarem asas para os nossos sonhos. E apenas o fumo que ao cair da noite começar a soltar-se na chaminé daquela casa, me acalentará a esperança de que vida só se apaga quando desistir for o verbo a conjugar.

Sem comentários: