Passam tão lentas as estações nesta espera que as pétalas da
tua vontade abram rios na minha felicidade. Tardam os dias em que as nossas
horas se encostam e as nossas peles se colam como páginas dum livro
indestrutível. Adia-se o hoje em sucessivos amanhãs que chegarão para se
dissiparem, como Primaveras desabrochadas na chegada do Outono. Mais não são do
que ciclos de vida, estas delongas em que me deito na expectativa do teu
acordar no meu olhar. Mas as marés não rebentam. Como se pontões opressivos as
tivessem penetrado e estancado o seu desejo. Sou areal estendido numa planície
onde as alvoradas se recusam começar. Adivinho-te as mãos nas memórias por onde
passo na confirmação de certezas. Imagino-te algodão dos lençóis que me cobrem
e translado para lágrimas tuas as gotas de chuva que me molham. Permaneço neste
escalar até ao topo duma montanha aberta em falésia no lado oposto que só
vislumbro quando a ti chego. Nesse instante em que o sol eclipsa a noite, numa
fracção de tempo esgotada pelo rasgar dum clarão. É a tua mão a indicar-me o
caminho. E quedo-me nas sombras do teu corpo, nos ecos da tua voz, na espuma do
teu sabor aguardando o amanhã com a certeza do sol, símbolo da Primavera
fecundando os passos do caminho lavrado com sementes que em beijos quero deixar
nos teus lábios. Estendo a minha mão… na procura da tua.
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