segunda-feira, 15 de março de 2010

Tarda a Primavera II


Passam tão lentas as estações nesta espera que as pétalas da tua vontade abram rios na minha felicidade. Tardam os dias em que as nossas horas se encostam e as nossas peles se colam como páginas dum livro indestrutível. Adia-se o hoje em sucessivos amanhãs que chegarão para se dissiparem, como Primaveras desabrochadas na chegada do Outono. Mais não são do que ciclos de vida, estas delongas em que me deito na expectativa do teu acordar no meu olhar. Mas as marés não rebentam. Como se pontões opressivos as tivessem penetrado e estancado o seu desejo. Sou areal estendido numa planície onde as alvoradas se recusam começar. Adivinho-te as mãos nas memórias por onde passo na confirmação de certezas. Imagino-te algodão dos lençóis que me cobrem e translado para lágrimas tuas as gotas de chuva que me molham. Permaneço neste escalar até ao topo duma montanha aberta em falésia no lado oposto que só vislumbro quando a ti chego. Nesse instante em que o sol eclipsa a noite, numa fracção de tempo esgotada pelo rasgar dum clarão. É a tua mão a indicar-me o caminho. E quedo-me nas sombras do teu corpo, nos ecos da tua voz, na espuma do teu sabor aguardando o amanhã com a certeza do sol, símbolo da Primavera fecundando os passos do caminho lavrado com sementes que em beijos quero deixar nos teus lábios. Estendo a minha mão… na procura da tua.

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