Deixar de ver, exposição de Pedro Cláudio patente na Casa Fernando Pessoa, em
Lisboa, é uma contemplação de paisagens sonegadas a sonhos e extrapoladas para
uma realidade, algumas vezes, intencionalmente difícil de identificar. Algumas
das imagens, concebidas pelo fotógrafo integralmente a partir de poemas de
Ricardo Reis, comungam de ambiências que nos permitem agrupá-las em universos
característicos. Poderão ser neblinas indefinidas, ou desfocagens dissimuladas,
adivinhando vultos no caminho do sonho. Poderão ser perspectivas que se abrem
para o céu, instantes congelados pelo olhar revelando cartografias de leitura
multifacetada. Voos sem limite acabando por aterrar na bainha do sol. Astros
perdidos na definição de serem estrelas ou planetas iluminados pelo sonho de
terem luz própria. Fronteiras na distinção entre o ver e o fantasiar. A força
dum rochedo reinando no centro do mar ou a fragilidade dum ponto cardeal na
imensidão cinzenta do céu. A luz natural dum dia acordando uma montanha, ou a
luz artificial, projectada e cruzada a partir do interior de duas portas
abertas frente a frente, entre a magia do dizer e entorpecimento de deixar de
ver, para vaguear entre as palavras e as imagens.
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