segunda-feira, 8 de março de 2010

Deixar de ver, de Pedro Cláudio



Deixar de ver, exposição de Pedro Cláudio patente na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, é uma contemplação de paisagens sonegadas a sonhos e extrapoladas para uma realidade, algumas vezes, intencionalmente difícil de identificar. Algumas das imagens, concebidas pelo fotógrafo integralmente a partir de poemas de Ricardo Reis, comungam de ambiências que nos permitem agrupá-las em universos característicos. Poderão ser neblinas indefinidas, ou desfocagens dissimuladas, adivinhando vultos no caminho do sonho. Poderão ser perspectivas que se abrem para o céu, instantes congelados pelo olhar revelando cartografias de leitura multifacetada. Voos sem limite acabando por aterrar na bainha do sol. Astros perdidos na definição de serem estrelas ou planetas iluminados pelo sonho de terem luz própria. Fronteiras na distinção entre o ver e o fantasiar. A força dum rochedo reinando no centro do mar ou a fragilidade dum ponto cardeal na imensidão cinzenta do céu. A luz natural dum dia acordando uma montanha, ou a luz artificial, projectada e cruzada a partir do interior de duas portas abertas frente a frente, entre a magia do dizer e entorpecimento de deixar de ver, para vaguear entre as palavras e as imagens.

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