‘Acordar é ser… agora’. Numa manhã, um homem acorda com a
decisão de reagir à incapacidade de esquecer a perda do seu grande amor. O
passado desenha-se em retrocesso a partir do presente. Esse hoje em que ‘só os
loucos poderão refutar a verdade de que o agora nada mais é do que o agora: é
uma lembrança fria. Um dia mais do que ontem, um ano depois de há um
ano atrás e que, mais cedo ou mais tarde, chegará’. A história desse homem vai
sendo revelada perdendo proximidade com esse hoje. Esse agora em que pensamentos
descarnados se mesclam com a personagem que todas as manhãs veste. Uma viagem
lenta no tempo, nessa contagem de horas em que se arrasta à espera que o
ponteiro se mova. Deixa-se comandar pelo relógio. Desistiu de ver o futuro.
Ficou à espera que ela chegasse. ‘A morte é o futuro.’
Ao longo dum único dia conhecemos a vida do professor
catedrático George Falconer. Na duração dum dia acompanhamo-lo na organização
do puzzle da sua vida. Adivinhamos a sua decisão para desistir de esquecer quem
lhe foi, inesperadamente, roubado.
Mas… talvez todos tenhamos um anjo-da-guarda. George teve-o.
Um alguém que nos protege, que nos ilumina caminhos, que nos afasta da descrença.
Em A Single Man,
de Tom Ford, são-nos mostrados a força, a dor, o sofrimento, a implacabilidade
do amor personalizados num homem homossexual. É-o, contudo, de uma forma tão
depurada, tão crua, tão sensível que nos assegura que a verdade do sentimento
amor não tem de diferir em função dos seus intérpretes.
Tom Ford, na sua estreia como realizador e em que conta com
deslumbrantes composições musicais de Abel Korzeniowski, tem a arte de nos
proporcionar constantes e sucessivas surpresas ao longo de todo o filme. São
frequentes os afastamentos dos caminhos para os quais nos havia parecido
convidar. É assim até ao último instante. No dia em que George Falconer decidiu
voltar a olhar para o futuro, eis que ela chega por vontade própria.
2 comentários:
Boa sugestão... Bj
Já coloquei na lista.
:)
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