Era uma vez uma noite em
que as palavras se abraçaram à vontade e abriram janelas de vida. Solto num
imaginário incandescente, o sentimento correra em mensagens que esboçavam
olhares ansiosos dum peito onde aportar. Nessa noite, as pedras da calçada
testemunharam o prazer não revelado dos passos caminharem juntos. Os olhares
confirmaram o apetite até então por provar. Enquanto os corações aprendiam a
sintonizar o ritmo, foram as mãos que os aceleraram por uma via repentinamente
mais vasta do que a galáxia por onde as palavras se haviam atrevido entrar. O
dia preparava-se para a sucessão quando um abraço pedido desaguou num beijo sem
fronteira, horizonte ou norma. Libertava-se a inibição numa planície de tempo
por segurar. Degustaram-se os paladares das bocas franqueadas sob o suster duma
circulação que descobriu novas veias para percorrer. Hoje, quando a cabeça
pousa no seu regaço, mesclam-se imagens num álbum por organizar. Esquecera-se
da máquina fotográfica, do relógio, da folha branca e do lápis em punho. Registou
na memória pormenores que se apoderaram de vida própria. Permanece uma ténue
neblina sobre a precisão, ainda que se revele inconfundível a história naquela
noite iniciada. Repousa a paz em degraus por escalar, porque amanhã novo dia se
acrescentará a esta narrativa em que as palavras se abraçam ao desejo de nova página
desfolhar.
1 comentário:
é lindo te ler.
e a trilha... sempre um espetáculo.
beijo
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