quarta-feira, 10 de março de 2010

História em continuação


Era uma vez uma noite em que as palavras se abraçaram à vontade e abriram janelas de vida. Solto num imaginário incandescente, o sentimento correra em mensagens que esboçavam olhares ansiosos dum peito onde aportar. Nessa noite, as pedras da calçada testemunharam o prazer não revelado dos passos caminharem juntos. Os olhares confirmaram o apetite até então por provar. Enquanto os corações aprendiam a sintonizar o ritmo, foram as mãos que os aceleraram por uma via repentinamente mais vasta do que a galáxia por onde as palavras se haviam atrevido entrar. O dia preparava-se para a sucessão quando um abraço pedido desaguou num beijo sem fronteira, horizonte ou norma. Libertava-se a inibição numa planície de tempo por segurar. Degustaram-se os paladares das bocas franqueadas sob o suster duma circulação que descobriu novas veias para percorrer. Hoje, quando a cabeça pousa no seu regaço, mesclam-se imagens num álbum por organizar. Esquecera-se da máquina fotográfica, do relógio, da folha branca e do lápis em punho. Registou na memória pormenores que se apoderaram de vida própria. Permanece uma ténue neblina sobre a precisão, ainda que se revele inconfundível a história naquela noite iniciada. Repousa a paz em degraus por escalar, porque amanhã novo dia se acrescentará a esta narrativa em que as palavras se abraçam ao desejo de nova página desfolhar.

1 comentário:

Zaclis Veiga disse...

é lindo te ler.
e a trilha... sempre um espetáculo.
beijo