Quando o olhar me lambe a memória
com a mesma língua que passei na tua pele, há um sabor doce na saliva, qual
espuma que se espalha sobre as pedras escondidas entre as rochas. Cobre a
neblina a voz da maré, como a vontade se inibe na luz do dia. É a razão farol
timoneiro de avanços calados nas mãos e esmagados pelos dedos. Abraço-te o
corpo na solidez de cada penedo. Partem em sonhos histórias onde voaste e
prendo-te no calor com que te faço tarde derretida seduzindo recifes.
Aspergem-me em dúvidas as vagas desconhecidas em que te adivinho. Que serei eu
mais do que porto ansiando a tua chegada de embarcação atracada confirmando o
lastro? Não sou luz, nem norte, tão só horizonte onde a verdade e o sonho se
tocam. Quando a noite transpôs o tempo, os passos ousaram chegar mais longe e
os corpos dobraram o cabo. O desejo ergueu-se sobre a referência iluminada e os
olhos da razão foram vendados pelo tocar das mãos nas muralhas da resistência. Soltaram-se
os mantos para exalar o sal da pele e o fogo abraçou a ondulação. Uma língua de
mar toca na minha memória e há um odor de ti na praia duma história em que me
escrevo.
1 comentário:
Maravilhoso... tão doce.
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