© cm
A noite desceu a ladeira que nos encaminha. Só a corrente
das águas restolha sobre o silêncio que as nossas palavras profanam. Mergulham
no rio, os degraus que elegemos como pouso. Seguramos nas mãos o tempo em fuga,
sem prazo, para uma foz que não demora. Um rosto sem luz própria espelha-se na tona
inquieta duma torrente conduzida pelo vento e por uma vida acrescentada. O teu
olhar adivinha uma face onde o meu só vislumbra vultos de continentes. Acendem-se fogos em minúsculas cristas erguidas pela irreverência. Ditas-me
sonhos a que roubo palavras. Guardo-as, impedindo-as de fugir para o mar. Serão
cânticos de memórias daquela noite em que os canaviais se esconderam para nos
ouvir segredar. Os corações sentam-se frente a frente quando fazes do meu colo
o teu trono. Reinas em mim sem eleição. É uma necessidade da alma que te torna
soberana dum sentimento que as indiscrições mal conseguem identificar. Fecha-se
na quimera, este desejo de reter na palma da mão, um sopro beijado nos lábios…
2 comentários:
"Os corações sentam-se frente a frente quando fazes do meu colo o teu trono." Olha outra frase "daquelas"!
Eu gosto bastante da tua poesia, mas, como sou mais de prosas, estes textos encantam-me ainda mais.
A manhã ficou mais bonita... Tinha saudades de ler prosa cantada, um bailado de palavras e os passos, as pegadas que deixas nos textos.
Que bom reencontrar.
Vou marcar um lugar, e ficar.
Um abraço!!!
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